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SOS Pantanal leva à COP30 alerta sobre emissões de CO₂ equivalentes às da Bélgica após queimadas de 2020 no bioma

O Pantanal voltou a ser tema de discussão na 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), em Belém (PA). Representantes da organização não governamental SOS Pantanal participam do evento para defender que áreas úmidas sejam incluídas entre as prioridades das negociações climáticas e para apresentar dados que evidenciam a relevância do bioma na regulação do clima sul-americano.

De acordo com o assessor de comunicação da entidade, Gustavo Figueiroa, o Pantanal funciona como uma “esponja” de carbono ao reter grandes quantidades do gás nos sedimentos e na vegetação. Esse equilíbrio, contudo, foi comprometido pelos incêndios registrados nos últimos anos. Segundo Figueiroa, apenas em 2020 as queimadas liberaram para a atmosfera volumes de dióxido de carbono comparáveis às emissões anuais da Bélgica, país europeu de porte médio em termos populacionais e econômicos. O dado foi levado pela ONG à conferência como exemplo da urgência de políticas de proteção às áreas alagáveis.

Projetos apresentados aos negociadores

Para reduzir riscos de novos focos de fogo e recuperar áreas degradadas, a organização detalhou quatro frentes de atuação iniciadas em 2020 e em busca de expansão:

Brigadas de incêndio: criação e manutenção de equipes locais treinadas para combater chamas ainda nos estágios iniciais, com equipamentos específicos para áreas alagadas.

Restauração ambiental: ações de replantio de espécies nativas e manejo de solos, a fim de restabelecer a capacidade natural de armazenamento de carbono e evitar erosão.

Monitoramento da água: instalação de estações e sensores que medem nível, fluxo e qualidade da água, informações consideradas essenciais para prever condições de seca ou cheia que favorecem queimadas.

Governança hídrica: articulação entre entes públicos, produtores rurais e comunidades tradicionais para elaborar normas de uso da água em bacias que alimentam o Pantanal, preservando o regime de pulso de enchentes característico do bioma.

Figueiroa informou que a estruturação dessas iniciativas foi possível com apoio de doações privadas e parcerias institucionais, mas ressaltou que a continuidade depende da captação de novos recursos. A presença na COP30, segundo ele, visa abrir diálogo com governos, fundos internacionais e empresas interessadas em financiar projetos de mitigação de emissões.

Integração entre biomas na agenda climática

Embora a conferência deste ano esteja centrada na Amazônia, a SOS Pantanal defende que todos os biomas brasileiros sejam incluídos nos compromissos multilaterais. Para a ONG, o Pantanal — maior área úmida contínua do planeta — exerce função complementar à floresta amazônica na regulação climática, pois influencia a formação de massas de ar úmido e o ciclo de precipitação em boa parte da América do Sul.

Os representantes argumentam que reconhecer oficialmente a contribuição das zonas úmidas nas metas de redução de gases de efeito estufa permitirá atrair investimento específico para prevenção de incêndios, reflorestamento e pesquisa. A entidade também aponta que a conservação dessas áreas tem reflexo direto na segurança hídrica e na biodiversidade regional.

Estratégia de sensibilização pela cultura

Paralelamente à participação técnica, a SOS Pantanal tem recorrido a manifestações artísticas para ampliar o alcance de sua mensagem. Shows beneficentes com músicos consagrados, como Ney Matogrosso e Lenine, foram realizados recentemente para arrecadar fundos destinados às brigadas de incêndio e para levar informações sobre o bioma a públicos urbanos e internacionais.

Para a ONG, iniciativas culturais são complementares ao trabalho científico, pois ajudam a romper barreiras de linguagem e despertam interesse de segmentos que não acompanham debates especializados. A estratégia é apresentada na COP30 como modelo de mobilização social que pode ser replicado em outras regiões.

Contexto das queimadas recentes

Os incêndios que ganharam notoriedade em 2020 tiveram início durante um período de estiagem prolongada e temperaturas elevadas. Municípios como Miranda e Corumbá, em Mato Grosso do Sul, estiveram entre os mais afetados, registrando frente de fogo em vegetação nativa e áreas de uso agropecuário. O episódio evidenciou as dificuldades de combate em um terreno de acesso limitado e com logística complexa.

Especialistas alertam que a repetição de eventos extremos pode reduzir a capacidade de o Pantanal se recuperar e, gradualmente, transformar a planície alagável em emissor líquido de gases de efeito estufa. Esse cenário, avaliam os pesquisadores citados pela ONG, exigiria investimentos superiores aos atuais para restaurar ecossistemas e evitar perdas permanentes de biodiversidade.

Ao final das apresentações, a SOS Pantanal reiterou que o apoio financeiro a programas de prevenção e restauração no bioma se traduz em benefícios climáticos globais, uma vez que a retenção de carbono nas áreas úmidas contribui para limitar o aquecimento do planeta. A entidade pretende divulgar relatórios detalhados sobre as emissões de 2020 e os resultados preliminares de suas iniciativas até a próxima rodada de negociações climáticas internacionais.

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