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Queda do dólar para R$ 5,27 ajusta receitas de soja e carnes em meio a oscilações do petróleo

A desvalorização de 0,62% do dólar registrada na sessão anterior, que levou a cotação à faixa de R$ 5,27, repercutiu de forma imediata no agronegócio exportador. A variação cambial coincidiu com novas oscilações no mercado internacional de petróleo e com o impasse em torno da aprovação de recursos para o governo dos Estados Unidos, fatores que, somados, redesenharam as margens de quem produz soja e proteínas animais no Brasil.

No campo energético, o barril do Brent passou por ajustes diante das discussões sobre demanda global e possíveis cortes de produção. Essa instabilidade reflete diretamente nos óleos vegetais, como óleo de soja e de palma, porque ambos integram a matriz do biodiesel. Quando o petróleo sobe ou cai, o mercado tende a reajustar o prêmio pago por esses óleos, alterando spreads e bases de negociação.

Ao mesmo tempo, um dólar mais fraco reduz a receita em reais recebida pelos exportadores. Mesmo que os preços internacionais da soja e das carnes permaneçam firmes, a conversão cambial pode eliminar parte do ganho financeiro obtido no exterior. A combinação de câmbio, valores em Chicago e prêmios nos portos formou o centro das atenções de produtores e tradings.

No caso da soja, três variáveis principais moldam o resultado final: a taxa de câmbio, o prêmio nos terminais brasileiros e a cotação dos contratos futuros na Bolsa de Chicago. Uma pressão isolada em qualquer desses pontos é capaz de comprometer a margem do produtor. Com o dólar no patamar atual, a queda de receita ocorre justamente no momento em que a comercialização da safra 2023/24 começa a ganhar volume em estados como Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Paraná.

As proteínas animais também enfrentam ajuste. Bovinos, suínos e frangos destinam parcela relevante da produção ao mercado externo, de modo que a competitividade internacional continua sendo um guia para os frigoríficos. No entanto, a entrada de dólares menor em reais limita o valor que as indústrias conseguem pagar ao pecuarista ou ao produtor integrado, ainda que a demanda global permaneça aquecida.

Analistas destacam que oscilações bruscas no câmbio costumam alterar a estratégia de venda. Quem comercializa soja ou carne recebe indicações para monitorar a formação diária de prêmios nos portos, o comportamento do dólar à vista e o movimento das cotações em Chicago. A recomendação tática é aproveitar janelas de alinhamento entre essas três variáveis, fixando lotes assim que a conta apresentar saldo positivo satisfatório.

O movimento recente do petróleo mantém o mercado de biodiesel em alerta. Quando o combustível fóssil se valoriza, o diferencial entre diesel mineral e biodiesel encolhe, o que tende a estimular a demanda por misturas com maior teor de componente vegetal. Nesse cenário, o óleo de soja costuma ser o principal beneficiado. Já em momentos de queda do petróleo, os óleos vegetais perdem competitividade, pressionando as cotações e reduzindo a receita dos esmagadores.

No Brasil, o impacto causa efeitos distintos ao longo da cadeia. Para indústrias de processamento, margens podem encolher se o óleo de soja recuar no mercado interno. Para o produtor de grão, a retração implica oferta maior de farelo, insumo essencial para a ração de aves e suínos. Consequentemente, o custo de produção das granjas pode cair, mas o ganho cambial limitado modera qualquer alívio no caixa.

O impasse no Congresso norte-americano, que discute a prorrogação do orçamento federal, adiciona elemento de incerteza. Um eventual atraso na aprovação poderia desestabilizar o apetite por risco nos mercados globais, fortalecendo o dólar e, por tabela, abrindo nova reconfiguração das contas do agronegócio brasileiro. Por enquanto, a moeda norte-americana recuou, mas operadores permanecem atentos a qualquer sinal de inversão de tendência.

Nos portos, tradings mantiveram postura seletiva. Em Paranaguá e Santos, os prêmios para embarque curto de soja flutuaram em função da demanda chinesa e do dólar mais barato. Quando a taxa de câmbio cede, tradings tentam reduzir o prêmio para compensar a conversão mais estreita. Produtores, por sua vez, resistem a negociar se percebem perda significativa na remuneração em reais.

A retórica se repete nas proteínas. Em embarques de carne bovina, frigoríficos ajustam ofertas aos pecuaristas conforme o câmbio flutua. A manutenção de volumes robustos para a China sustenta as exportações, mas a margem em reais depende do comportamento da moeda norte-americana nas próximas semanas.

Sob esse conjunto de fatores, o recado predominante no mercado é de cautela. Falta de previsibilidade sobre petróleo e dólar exige que produtores diversifiquem prazos de fixação e avaliem custos logísticos, fretes e necessidades de caixa antes de comprometer novos lotes. Qualquer decisão isolada, sem observar as três pontas — câmbio, prêmios e Chicago —, pode comprometer o resultado da safra.

Analistas acrescentam que a proximidade do plantio de soja em parte do Centro-Sul reforça a atenção às compras de insumos. Fertilizantes e defensivos importados podem ficar mais caros se o dólar voltar a subir. Por ora, a queda da moeda permite alguma economia, mas contratos precisam ser fechados rapidamente para garantir entrega na janela ideal de plantio.

Em síntese, a cotação de R$ 5,27 para o dólar deixou claro que a rentabilidade do agro exportador segue sensível a qualquer variação cambial. Enquanto o petróleo permanecer instável e o debate fiscal nos Estados Unidos não for resolvido, a estratégia de venda de soja e carnes continuará amarrada a movimentos diários de mercado, exigindo monitoramento constante e ajustes frequentes nas planilhas de custo.