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Produtores de Aparecida do Taboado temem abandonar atividade diante da estagnação do preço do leite

O setor leiteiro de Aparecida do Taboado enfrenta um cenário de incerteza provocado pela combinação de custos elevados de produção, preços estagnados e aumento das importações. A avaliação é de César Júnior, presidente da Associação de Produtores de Leite do município (Aprolat), que concedeu entrevista a um noticiário local na manhã de quinta-feira, 13 de novembro. Ele afirmou que, desde o início de 2025, o valor pago ao produtor não sofre reajustes significativos, situação que, segundo o dirigente, se repete em diversas regiões do país.

De acordo com a Aprolat, as fazendas do município sul-mato-grossense produzem, em conjunto, aproximadamente 15 mil litros de leite por dia. Esse volume, porém, pode diminuir nos próximos meses, pois há produtores cogitando deixar a atividade diante do desequilíbrio entre receita e gasto operacional. “Muitos colegas comentam que não conseguem mais honrar compromissos, já que o custo não para de subir e a remuneração permanece praticamente a mesma”, declarou César Júnior durante a entrevista.

Fatores que pressionam o setor

O dirigente atribui a crise atual a três fatores principais. O primeiro é a estiagem prolongada, que reduziu a disponibilidade de pastagem e elevou o custo com ração. O segundo refere-se ao aumento das importações de lácteos provenientes da Argentina e do Uruguai. O terceiro fator, apontado pelo presidente da Aprolat, é a manutenção, há vários meses, de valores de referência considerados insuficientes pelos produtores.

Em todo o país, produtores de leite relatam dificuldades semelhantes. Para eles, o preço pago na porteira não acompanha a alta dos insumos usados no dia a dia da propriedade, entre os quais se destacam ração, fertilizantes, combustível e energia elétrica. Em Aparecida do Taboado a realidade não difere. De acordo com a associação local, a margem de lucro caiu a ponto de inviabilizar a continuidade de pequenos e médios criadores, grupo que concentra a maior parte da produção no município.

Risco de retração na oferta local

Os 15 mil litros diários atualmente extraídos em Aparecida do Taboado podem não se manter caso mais pecuaristas decidam vender rebanhos ou migrar para outras culturas. A depender da permanência do quadro descrito por César Júnior, existe a possibilidade de redução significativa na oferta regional, com impacto tanto para laticínios quanto para o comércio varejista que depende do abastecimento interno.

O dirigente ressalta que a atividade leiteira possui ciclos longos e, por isso, a saída de produtores tende a ser difícil de reverter. “Quando um produtor desmonta sua estrutura, não é simples retomar. Isso representa perda de emprego no campo e diminuição da arrecadação municipal”, explicou o presidente da Aprolat, ao alertar para os efeitos em cadeia que podem alcançar transporte, serviços veterinários e comércio de insumos.

Cobrança por apoio governamental

Durante a entrevista, César Júnior cobrou ações do Governo Federal a fim de amenizar a crise. Entre as demandas citadas estão programas que ampliem o acesso a crédito, a revisão de políticas de importação e a adoção de incentivos capazes de preservar a renda do produtor. Ele argumenta que medidas emergenciais podem garantir a sobrevivência de um segmento que, além de gerar empregos, contribui para a segurança alimentar do país.

Embora o dirigente não tenha detalhado propostas específicas, ele defendeu a criação de mecanismos que assegurem maior previsibilidade de preço e cobertura de custos, sobretudo em períodos prolongados de seca. Segundo a Aprolat, o aperto financeiro se intensificou no segundo semestre de 2025, quando a estiagem aumentou despesas com alimentação animal, ao passo que o preço recebido permaneceu praticamente inalterado.

Situação reflete tendência nacional

O cenário descrito em Aparecida do Taboado guarda semelhança com relatos de outras regiões brasileiras. Representantes de cooperativas e associações de diferentes estados vêm sinalizando estagnação nos valores pagos pela indústria, ao mesmo tempo em que apontam crescimento de importações de países vizinhos, notadamente Argentina e Uruguai. Para produtores, essa concorrência concorre para pressionar as cotações internas.

Especialistas do setor afirmam que o comércio internacional de lácteos exerce influência direta sobre o mercado doméstico, principalmente quando os países exportadores oferecem preços mais baixos. No caso de Aparecida do Taboado, produtores argumentam que o afluxo de leite estrangeiro contribui para limitar a margem de negociação local, tornando mais difícil reajustar o preço recebido nas propriedades.

Perspectivas

Com a aproximação do período chuvoso, parte dos agricultores espera algum alívio no custo de produção, a depender da recuperação das pastagens. Entretanto, permanecem as incertezas em relação ao comportamento do mercado internacional e à adoção de medidas de apoio por parte do governo. Até que mudanças concretas ocorram, a Aprolat segue monitorando a situação e reforçando o alerta sobre a possibilidade de retração na produção municipal, caso produtores não encontrem condições econômicas para permanecer na atividade.

Enquanto aguarda resposta das autoridades, a entidade mantém articulação com representantes de outros estados para levar a pauta de reivindicações ao poder público federal. O objetivo é buscar soluções que restabeleçam equilíbrio entre receita e despesa, evitando a saída de produtores do setor e garantindo a continuidade da oferta de leite em Aparecida do Taboado e em todo o país.