A última revisão da consultoria StoneX indica que o Brasil deve colher 177,2 milhões de toneladas de soja na safra 2025/26, volume ainda próximo do recorde nacional, mas 0,9 % menor que o projetado no mês anterior. O ajuste reflete a combinação de clima irregular, atrasos no plantio e necessidade de replantio em áreas chave, especialmente em Mato Grosso e Goiás. Paralelamente, a estimativa para o milho da primeira safra foi elevada para 26,1 milhões de toneladas, alta de 1,9 % na comparação mensal, impulsionada pela expansão de área no Norte e Nordeste e pelo bom desempenho das lavouras no Rio Grande do Sul.
Situação da soja
A redução no potencial da oleaginosa decorre, principalmente, de chuvas mal distribuídas durante a fase de instalação das lavouras. Em municípios de grande peso produtivo, o excesso de dias secos provocou atraso no calendário de plantio, exigiu replantio em talhões comprometidos e limitou o desenvolvimento inicial das plantas. Em Mato Grosso, maior produtor nacional, essas dificuldades resultaram até em leve recuo na área cultivada. Goiás também registrou impacto semelhante, com produtores relatando germinação irregular e necessidade de ajustes de manejo.
Apesar do corte na projeção, o volume previsto mantém o País como principal fornecedor global de soja em 2026. O patamar estimado pela StoneX permanece próximo ao teto produtivo atingido em safras recentes, confirmando a competitividade brasileira no mercado internacional. Ainda assim, o desvio em relação ao otimismo inicial exige atenção a possíveis reflexos na oferta interna, no ritmo de comercialização e na programação logística para escoamento da oleaginosa a partir do primeiro trimestre do próximo ano.
Avanço do milho verão
Enquanto a soja perdeu parte do fôlego, o milho da primeira safra ganhou espaço. A consultoria aumentou em 500 mil toneladas a projeção de produção, agora fixada em 26,1 milhões de toneladas. O crescimento decorre da abertura de novas áreas em estados do Norte e Nordeste, onde o plantio costuma ocorrer mais tarde e encontrou um cenário climático favorável ao estabelecimento das lavouras. A ampliação da semeadura nesses locais compensou eventuais reduções em regiões tradicionais do Centro-Sul.
No Rio Grande do Sul, o avanço da cultura também chama a atenção. Até o momento, o estado apresenta quadro hídrico considerado positivo, proporcionando bom enraizamento e desenvolvimento vegetativo das plantas. Se as chuvas se mantiverem regulares durante todo o mês de dezembro, período crítico para a definição do potencial de produtividade, a região pode alcançar médias acima das observadas na temporada passada.
Repercussões no mercado
O cenário traçado pela StoneX sugere um balanço confortável de oferta para os dois principais grãos do País, mas com nuances distintas. A ligeira redução na soja afasta o entusiasmo registrado no início do ciclo, enquanto o milho verão ganha relevância dentro do mix de produção. Esse deslocamento tende a influenciar decisões comerciais dos produtores, a ocupação de armazéns e a estratégia de escoamento em portos, sobretudo entre janeiro e março de 2026, quando as duas culturas disputam espaço na cadeia logística.
Do ponto de vista de precificação, pequenas variações na produtividade final podem alterar a relação entre oferta e demanda tanto no mercado interno quanto no externo. Reclamações pontuais sobre qualidade, eventuais atrasos na colheita ou a continuidade de chuvas além do período ideal são fatores que podem ajustar prêmios ou descontos. Por isso, agricultores devem acompanhar com atenção boletins climáticos e relatórios de consultorias nas próximas semanas.
Além do clima, custos de produção, disponibilidade de insumos e câmbio seguem como variáveis determinantes para o planejamento das vendas. Embora a safra de soja permaneça volumosa, o corte de 0,9 % na expectativa de produção reduz a margem de folga que o mercado vinha projetando. Já o incremento na colheita de milho verão reforça a necessidade de vigilância sobre a capacidade de armazenagem, especialmente em regiões onde a safrinha já compete por estrutura e logística.
Perspectivas e pontos de atenção
Entre dezembro e janeiro, o desenvolvimento das lavouras de soja ainda pode recuperar parte do potencial perdido, caso as precipitações se normalizem, ou sofrer novos ajustes negativos se a irregularidade climática persistir. Para o milho, a continuidade das chuvas no Sul e a boa distribuição hídrica no Norte e Nordeste serão decisivas para confirmar o aumento previsto de produção.
Nesse contexto, analistas recomendam que produtores mantenham estratégias flexíveis de comercialização, revisem custos e acompanhem indicadores de demanda internacional. Movimentos pontuais de preço podem surgir diante de qualquer revisão nas estimativas, seja por quebras adicionais na soja ou por eventual desaceleração no ritmo de plantio do milho. A atenção redobrada ao clima e às condições de mercado, portanto, continuará determinante para a rentabilidade das duas culturas na safra 2025/26.








