Inocência (MS) – A Arauco deu início, na última semana, às frentes de trabalho preliminares para viabilizar um ramal ferroviário de 47 quilômetros que ligará a fábrica de celulose em implantação no município de Inocência à malha norte operada pela Rumo. A nova conexão formará um corredor logístico até o Porto de Santos, em São Paulo, destinado ao escoamento da produção prevista para a unidade sul-mato-grossense.
O empreendimento faz parte do Projeto Sucuriú, pacote de investimentos de US$ 4,6 bilhões que marca a entrada da companhia chilena no mercado brasileiro de celulose. A obra ferroviária recebeu todas as autorizações regulatórias exigidas: concessão da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), habilitação como Agente Transportador Ferroviário, Declaração de Utilidade Pública (DUP) para desapropriações de áreas privadas e licenças ambientais que permitem o início das etapas civis.
Traçado paralelo a rodovias estaduais
O traçado seguirá em grande parte paralelo às rodovias MS-377 e MS-240, em áreas rurais do município. O projeto inclui passagens inferiores e superiores, adequações de vias existentes, dispositivos para transposição de fauna e uma ponte de 270 metros sobre o córrego São Mateus, desenhada para reduzir movimentação de solo e supressão vegetal.
A instalação do ramal atinge 40 propriedades rurais. Embora a Declaração de Utilidade Pública já esteja válida, a empresa mantém negociação individual com produtores e autoridades locais. O cronograma prevê que as obras de infraestrutura avancem apenas nos trechos cujos acordos de desapropriação estejam concluídos.
Incentivos tributários e compromissos ambientais
Para otimizar custos, a ferrovia foi enquadrada no Regime Especial de Incentivos para o Desenvolvimento da Infraestrutura (Reidi), que suspende tributos federais incidentes sobre bens e serviços destinados à obra. Na última semana, o Ministério dos Transportes publicou portaria concedendo isenção fiscal de R$ 91,7 milhões relacionada ao empreendimento.
No campo ambiental, a companhia firmou Termo de Compromisso com o Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul (Imasul). O documento prevê aporte de R$ 4,3 milhões, distribuídos em 24 meses, para iniciativas de recuperação e conservação na área de influência do projeto.
Redução de caminhões e emissões
Segundo estimativas da Arauco, a transferência do transporte de celulose para o modal ferroviário resultará em diminuição de aproximadamente 7 mil viagens de caminhões por mês nas estradas da região. A migração deve representar corte de 94% nas emissões de gases de efeito estufa em comparação ao deslocamento rodoviário.
Fábrica com produção de 3,5 milhões de toneladas
A planta industrial de Inocência terá capacidade para produzir 3,5 milhões de toneladas anuais de fibra curta de celulose. A entrada em operação está prevista para o final de 2027. Durante a fase de construção, a empresa calcula a criação de mais de 14 mil postos de trabalho diretos e indiretos. Quando a unidade estiver em plena atividade, a estimativa é de 6 mil empregos distribuídos entre as áreas industrial, florestal e logística.
A companhia projeta que o conjunto das obras – fábrica e ferrovia – aumente a renda local, eleve a arrecadação tributária municipal e estadual e atraia novos investimentos para o leste de Mato Grosso do Sul e para municípios vizinhos, como Selvíria e Três Lagoas.
Com a implantação do ramal, a celulose produzida em Inocência seguirá por trilhos até se integrar à malha norte da Rumo, que cruza o estado de São Paulo até alcançar o Porto de Santos. Dessa forma, a Arauco prevê maior competitividade na exportação de sua produção e contribuição para a modernização da infraestrutura logística brasileira.
As obras estruturantes do ramal têm início condicionado à conclusão das frentes de topografia, sondagem geotécnica e instalação de canteiros, etapas que agora avançam paralelamente às negociações fundiárias. A empresa não divulgou, até o momento, a data de início das intervenções pesadas de terraplenagem e montagem dos trilhos.
Com todos os licenciamentos em vigor, incentivos fiscais assegurados e compromissos ambientais firmados, o projeto amplia a rede ferroviária do centro-oeste e integra um dos maiores investimentos privados em infraestrutura e indústria de base em curso no país.








