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Clínica Escola da UFMS reforça atendimento a pessoas com hanseníase em Três Lagoas

A Clínica Escola da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), no campus de Três Lagoas, passou a dedicar parte de sua estrutura ao acompanhamento de pacientes com hanseníase. O serviço alia formação acadêmica à assistência em saúde e se tornou um ponto de apoio para a rede municipal, que concentra 24 pessoas em tratamento, sendo que 20 delas receberam o diagnóstico apenas em 2025, conforme dados da Secretaria Municipal de Saúde.

O projeto coloca estudantes de Medicina diante de situações concretas de cuidado, sempre sob orientação direta de professores. Na prática, a iniciativa permite que usuários do Sistema Único de Saúde realizem consultas, exames físicos e procedimentos cirúrgicos de pequeno porte dentro da universidade, enquanto os futuros médicos aplicam conhecimentos clínicos e cirúrgicos em ambiente controlado. Todo ato é supervisionado por um docente que assume a responsabilidade técnica, garantindo segurança ao paciente e aprendizado ao aluno.

Segundo a coordenadora do projeto, professora Priscila Balderrama, aproximadamente 100 atendimentos já foram concluídos desde o início do foco em hanseníase. Todos os pacientes chegaram à universidade por meio de encaminhamento das unidades básicas de saúde, sem demanda espontânea. A estratégia foi adotada para manter a organização do fluxo de atendimento e evitar sobreposição com os serviços de porta aberta disponíveis no município.

O processo começa na unidade de origem, onde o profissional da rede identifica sinais sugestivos ou confirma a doença e gera o encaminhamento eletrônico. Ao chegar à Clínica Escola, o usuário passa por anamnese detalhada e exame físico completo, com ênfase em avaliação dermatoneurológica, essencial para o diagnóstico e o estadiamento da hanseníase. Durante essa etapa, os acadêmicos realizam a coleta histórica, mapeiam lesões, testam sensibilidade e verificam comprometimento neural periférico, sempre acompanhados pelo preceptor.

Quando necessário, são solicitadas ou executadas biópsias de pele. Os procedimentos acontecem em consultórios montados no Campus I da UFMS, equipados com instrumentos cirúrgicos básicos. Estudantes que já cursaram a disciplina de técnica operatória participam ativamente, realizando incisão, hemostasia e sutura sob observação do docente. Alunos sem experiência prática permanecem como observadores, recebendo orientações em tempo real sobre técnica asséptica e manuseio de tecidos.

As amostras coletadas seguem para análise histopatológica em laboratório credenciado pelo município. O resultado é acrescentado ao prontuário digital compartilhado entre universidade e Secretaria Municipal de Saúde. A integração do sistema permite que médicos das unidades básicas acessem informações atualizadas, acompanhem a evolução do quadro e ajustem o esquema terapêutico quando necessário. Dessa forma, a continuidade do cuidado é preservada mesmo depois de o paciente retornar à atenção primária.

Após confirmação laboratorial ou revisão diagnóstica, o médico responsável prescreve o tratamento com poliquimioterapia padronizada pelo Ministério da Saúde. A dispensação dos medicamentos ocorre na rede pública municipal, enquanto a Clínica Escola mantém consultas de acompanhamento para monitorar possíveis efeitos adversos, adesão ao regime e regressão das lesões. Intercorrências são relatadas imediatamente à equipe da unidade de origem por meio do mesmo sistema digital.

Além do benefício assistencial, a iniciativa contribui para a formação prática dos estudantes em doenças negligenciadas. O contato direto com casos de hanseníase reforça aspectos de epidemiologia, prevenção de incapacidades, importância do diagnóstico precoce e combate ao estigma associado à enfermidade. Para o município, a parceria representa a expansão do acesso a avaliações especializadas sem gerar custos adicionais, já que a estrutura e os profissionais fazem parte do quadro universitário.

A professora Priscila Balderrama destaca que a meta é ampliar o número de encaminhamentos conforme a capacidade de absorção do ambulatório, mantendo a qualidade do atendimento e respeitando o limite de supervisão didática. A longo prazo, o modelo poderá ser replicado em outros campos temáticos, como dermatologia geral e pequenas cirurgias ambulatoriais, potencializando o vínculo entre ensino e serviço na região.

Por enquanto, a clínica permanece atendendo exclusivamente pacientes com hanseníase encaminhados pela Secretaria Municipal de Saúde. Usuários que suspeitam da doença ou apresentam sintomas — como manchas esbranquiçadas ou avermelhadas com perda de sensibilidade — devem procurar a unidade básica mais próxima para avaliação inicial. Caso seja confirmado o critério de encaminhamento, o profissional da rede fará o agendamento direto no sistema, garantindo vaga na agenda da UFMS.

Com esse fluxo, a Clínica Escola consolida-se como parceiro estratégico na resposta municipal à hanseníase, ampliando a capacidade diagnóstica e terapêutica de Três Lagoas e proporcionando experiência prática essencial aos futuros médicos formados pela universidade.

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