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Copom mantém Selic em 15% e reforça cautela diante de inflação resistente

O Comitê de Política Monetária do Banco Central decidiu, por unanimidade, manter a taxa básica de juros em 15% ao ano. A deliberação foi tomada na reunião realizada nesta quarta-feira, 5 de novembro, em Brasília, e preserva a Selic no patamar mais alto desde julho de 2006. É o terceiro encontro consecutivo em que o colegiado opta por não alterar os juros, prolongando o período de estabilidade iniciado em setembro do ano passado.

Segundo o comunicado divulgado após a reunião, a manutenção reflete a combinação de inflação ainda acima da meta e incerteza no ambiente internacional. O Banco Central avalia que o cenário externo permanece instável, com influência das políticas econômicas dos Estados Unidos sobre as condições financeiras globais, fator considerado relevante para a condução da política monetária doméstica.

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo acumula avanço de 5,17% nos 12 meses terminados em setembro, superando o teto da meta contínua de 3%, que admite faixa de tolerância de 1,5 ponto percentual. No mês de setembro, a variação foi de 0,48%. A prévia de outubro, medida pelo IPCA-15, indicou desaceleração, atribuída sobretudo à queda nos preços de alimentos, mas o ritmo ainda é insuficiente para recolocar a inflação dentro do intervalo desejado.

A Selic vinha sendo elevada desde setembro de 2024, quando passou de 10,5% para 15%. Desde então, o BC tem reiterado que a taxa em nível restritivo por período prolongado é necessária para promover a convergência da inflação à meta. No comunicado mais recente, o colegiado reafirmou que não descarta novos aumentos caso as condições econômicas se deteriorem.

No âmbito doméstico, a decisão ocorre em meio a pressões do Ministério da Fazenda por juros mais baixos. O ministro Fernando Haddad voltou a defender reduções, argumentando que o patamar atual restringe o crescimento econômico. Apesar disso, agentes de mercado já antecipavam a manutenção e, de acordo com projeções consolidadas, esperam o início do ciclo de cortes apenas em janeiro de 2026.

As estimativas oficiais para a inflação foram revistas recentemente. No Relatório de Política Monetária divulgado em setembro, o Banco Central ajustou a expectativa para 2025 de 5% para 4,8%. O Boletim Focus, publicado em 3 de novembro, aponta previsão de 4,55% para o mesmo período, ligeiramente acima do limite do intervalo de tolerância. O documento do mercado também projeta crescimento de 2% do Produto Interno Bruto neste ano.

Embora a inflação mostre sinais de acomodação em alguns componentes, como alimentos, outros grupos continuam pressionados, observou o BC. O comunicado destaca que o balanço de riscos permanece assimétrico e que o ambiente externo pode agravar a volatilidade, especialmente se a política monetária norte-americana prolongar o ciclo de juros elevados. Esse contexto, segundo o Comitê, reforça a necessidade de manter a postura de cautela.

Com a Selic em 15%, o Brasil segue entre os países com maior taxa real de juros, o que tem impacto direto sobre crédito, consumo e investimento. Para o Banco Central, contudo, esse nível continua sendo a ferramenta adequada para conter a propagação de choques de preços e ancorar as expectativas de inflação.

A próxima reunião do Copom está marcada para os dias 9 e 10 de dezembro. Até lá, o colegiado acompanhará a evolução dos indicadores de atividade econômica, do mercado de trabalho, das expectativas de inflação e do cenário internacional para calibrar eventuais ajustes na política monetária.

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