A abertura de novas áreas para lavouras e pecuária continua sendo o principal fator de remoção de vegetação nativa em Mato Grosso do Sul. O dado consta no Anuário Estadual de Mudanças Climáticas 2025, produzido pelo Centro Brasil no Clima (CBC) e pelo Instituto Clima e Sociedade (ICS), divulgado nesta quarta-feira (5).
Cobertura vegetal encolhe
Segundo o levantamento, a vegetação natural, que abrangia 51% do território sul-mato-grossense em 1985, recuou para 39% em 2023. No mesmo intervalo, as pastagens avançaram de 29% para 51%, enquanto a agricultura passou a ocupar 10% da área estadual.
Desmatamento e queimadas reaceleram
Depois de um período de relativa estabilidade entre 2017 e 2021, o desmatamento voltou a crescer: de 2022 para 2023 houve alta de 77,3% na área derrubada. As queimadas também se intensificaram e atingiram 447 mil hectares, incremento de 104% no período. Como reflexo, as emissões líquidas do setor de uso da terra e florestas subiram 80%.
A maior parte da supressão ocorreu no Cerrado, bioma que cobre 60% do Estado, mas Pantanal e Mata Atlântica também sofreram pressão da expansão da fronteira agropecuária.
Emissões em queda desde 2000
Apesar do aumento recente do desmatamento, o anuário aponta redução de 6% nas emissões líquidas de gases de efeito estufa entre 2000 e 2023. O resultado é atribuído à modernização da pecuária, recuperação de pastagens degradadas e adoção de sistemas produtivos mais eficientes, apoiados por programas como o Plano ABC+ 2020-2030 e o MS Carbono Neutro.
O Programa Precoce MS, citado no relatório, promove abate antecipado com melhor manejo nutricional e genético. Dados do IBGE indicam que o rebanho bovino caiu de 19,02 milhões (2020) para 18,74 milhões de cabeças (2024) sem redução na produção de carne, sinal de maior produtividade.
Sistemas integrados lideram recuperação
Mato Grosso do Sul é apontado como líder nacional na adoção de Integração Lavoura-Pecuária (ILP) e Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF). Em 2020, 30% das pastagens estavam degradadas; ações de baixo carbono vêm acelerando a recuperação dos solos, reduzindo a abertura de novas áreas. Atualmente, 1,5 milhão de hectares de florestas plantadas integra esses sistemas, segundo a Embrapa.
Especialistas destacam avanços
O professor Ricardo Gava, da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, afirmou no relatório que o Estado é referência em manejo sustentável. Ele lembrou que o Código Florestal exige 20% de preservação no Cerrado, enquanto o Estado mantém 39% de cobertura nativa. Para Gava, práticas agrícolas e pecuárias modernas conseguem estocar mais carbono do que emitem.
Já o engenheiro agrônomo Paulo Eduardo Teodoro coordenou pesquisa que mapeia o fluxo de carbono nos três biomas estaduais — Pantanal, Mata Atlântica e Cerrado — em quatro tipos de uso do solo (vegetação nativa, pastagens, soja e eucalipto). O estudo concluiu que áreas com eucalipto emitem menos dióxido de carbono que os demais usos investigados.
Com informações de Campo Grande News









