O avanço da semeadura de soja em Mato Grosso do Sul atingiu 61% da área estimada para a safra 2023/24 até 31 de outubro, correspondente a 2,94 milhões de hectares. Os dados são da Associação dos Produtores de Soja do estado (Aprosoja-MS). Embora a superfície total destinada à cultura tenha crescido 6% em relação ao ciclo anterior, o ritmo de plantio está sete pontos percentuais abaixo do registrado no mesmo período do ano passado.
Segundo a entidade, o atraso é atribuído às chuvas intensas que se concentraram nas últimas semanas. Os volumes elevados limitaram o acesso das máquinas às lavouras, mas garantiram umidade suficiente no solo, condição considerada favorável ao estabelecimento das plantas. Produtores relatam que, sempre que o clima permite, as operações avançam de forma consistente e a expectativa é concluir a semeadura dentro da janela agronômica recomendada.
Ao mesmo tempo, o mercado externo passa por ajustes que reforçam a competitividade da soja brasileira. Os prêmios de exportação no país recuaram para aproximadamente US$ 0,40 por bushel, refletindo menor demanda no curto prazo e o cenário de incerteza na disputa comercial entre Estados Unidos e China. A manutenção de uma tarifa de 23% sobre o grão norte-americano freia as cotações na Bolsa de Chicago, o que, combinado ao prêmio mais baixo, mantém o produto nacional em vantagem no principal destino de compra.
Com base nos níveis atuais de prêmio e frete, a soja brasileira chega à China a cerca de US$ 460 por tonelada, enquanto o grão dos Estados Unidos é cotado em torno de US$ 522 por tonelada. A diferença de preços sustenta o interesse dos importadores pelo Brasil, mesmo em um período de transição entre a oferta remanescente da safra 2022/23 e o desenvolvimento da nova produção.
Outro fator que adiciona volatilidade às negociações é o câmbio. A valorização recente do dólar frente ao real amplia a rentabilidade em moeda nacional, mas também eleva o custo de insumos e fretes atrelados à moeda norte-americana. Para analistas de mercado, enquanto a tarifa chinesa permanecer inalterada, o Brasil tende a ocupar uma fatia maior do comércio global nos próximos embarques. Já o relatório de oferta e demanda previsto para novembro, geralmente utilizado como referência de mercado, é apontado como de impacto limitado diante da atual diferença de preços entre os dois fornecedores.
Nas principais praças de Mato Grosso do Sul, as cotações exibiram leve valorização no encerramento de outubro. De acordo com a plataforma Grão Direto, a saca de 60 quilos fechou a R$ 128,35 em Cidrolândia, R$ 124,52 em São Gabriel do Oeste, R$ 123,62 em Chapadão do Sul, R$ 125,58 em Maracaju e R$ 124,13 em Ponta Porã. Em Dourados, levantamento da Royal Rural apontou preço médio de R$ 125,83. Mesmo com o ajuste positivo, produtores seguem cautelosos nas vendas, avaliando custos de produção, variação cambial e comportamento dos prêmios antes de alongar posições.
Com 39% da área ainda a ser plantada, o cronograma da safra no estado dependerá da continuidade das chuvas em volumes adequados, mas sem provocar interrupções prolongadas nas atividades. Técnicos de campo destacam que o excesso de precipitação pode exigir replantio em áreas pontuais, aumentando o gasto com sementes e defensivos. Por outro lado, chuvas bem distribuídas em novembro e dezembro são essenciais para garantir boas condições hídricas durante a fase de florescimento e enchimento de grãos.
Em termos de logística, terminais portuários e operadores de transporte se preparam para um possível aumento de demanda a partir de janeiro, quando parte da produção sul-matogrossense costuma ser direcionada aos portos de Santos (SP) e Paranaguá (PR). Empresas de armazenagem relatam contratos antecipados de exportação em nível superior ao do ano passado, estimulados pelo diferencial de preço favorável ao Brasil.
No curto prazo, agentes de mercado monitoram a evolução climática, a movimentação cambial e qualquer sinal de mudança na política tarifária chinesa. Com o plantio ainda em curso, a rentabilidade final dependerá do equilíbrio entre produtividade, custos e preços de venda. Até o momento, a combinação de área maior, chuvas suficientes e competitividade externa sustenta a expectativa de uma safra robusta em Mato Grosso do Sul.









