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Relatório de oferta e demanda do USDA concentra atenções e pode redefinir preços de soja, farelo e óleo

O mercado internacional de grãos volta todas as atenções para a próxima sexta-feira, data em que o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) divulgará seu relatório global de oferta e demanda. O documento, divulgado mensalmente, traz atualizações sobre produção, estoques e comércio das principais commodities agrícolas e costuma provocar ajustes imediatos em prêmios, bases de exportação e cotações nas bolsas de futuros.

Nesta semana, operadores e analistas destacam que o relatório chega em um momento de fortes influências externas. Além das estimativas do USDA, fatores como o câmbio, a trajetória do petróleo e o nível dos estoques chineses têm sido monitorados em conjunto, criando um quadro complexo de formação de preços para soja em grão, farelo e óleo. A avaliação é de que a combinação desses elementos amplifica o potencial de volatilidade logo após a divulgação.

Informações de mercado indicam que a China, principal importadora global da oleaginosa, mantém atualmente entre 10 e 11 milhões de toneladas de soja armazenadas. Ao mesmo tempo, compradores chineses devem contratar cerca de 12 milhões de toneladas nos Estados Unidos até o fim deste ano comercial, com previsão de retomar as aquisições no Brasil a partir de janeiro. Esse planejamento de compras cria janelas específicas de demanda que podem influenciar tanto o prêmio nos portos brasileiros quanto a competitividade do produto norte-americano.

Em relação à origem, o consultor Matheus Pereira, da Pátria Agronegócios, observa que a base disponível no porto de Paranaguá segue mais barata do que a soja embarcada a partir dos terminais norte-americanos, apesar da colheita nos Estados Unidos estar em pleno andamento. Essa diferença de preço reforça a vantagem brasileira no curto prazo e contribui para manter compradores externos no mercado local, ainda que o ciclo de safra norte-americano esteja pressionando as cotações em Chicago.

No entanto, a competitividade de longo prazo dependerá de variáveis adicionais. Para a temporada 2026, o cenário será definido pela evolução climática na América do Sul e pelas possíveis revisões do USDA em produtividade e estoques mundiais. Ajustes mais significativos nesses números podem alterar a relação de oferta global, afetando novamente prêmios e bases nos principais portos exportadores.

Do ponto de vista do produtor brasileiro, a estratégia recomendada passa por acompanhar com atenção o relatório desta sexta-feira, confrontar os dados oficiais com premissas internas de custos e rever travas de preços sempre que o tripé câmbio-prêmio-Chicago permitir. Oscilações no dólar, por exemplo, podem neutralizar ou reforçar ganhos observados na Bolsa de Chicago, enquanto alterações nos prêmios de exportação definem a remuneração final em reais.

Outra variável citada pelos agentes de mercado é o petróleo. Movimentos na cotação do barril influenciam diretamente a demanda por biodiesel e, consequentemente, pelo óleo de soja. Caso o relatório do USDA sinalize estoques de óleo mais apertados, a correlação com a energia pode ganhar peso adicional na formação de preço, sobretudo em um contexto de oferta global de combustíveis mais restrita.

Com a colheita norte-americana avançando e a China calibrando seus estoques, o Brasil continua no radar dos principais compradores. Essa presença constante oferece margem para negociar bases, prazos de embarque e possíveis prêmios sobre o valor de Chicago. Entretanto, especialistas alertam que a janela de oportunidade pode se estreitar caso o USDA divulgue números considerados ampliadores de excedentes, fato que tende a pressionar as cotações à vista e os contratos futuros.

Nesse ambiente, o relatório de oferta e demanda do USDA será decisivo não apenas para direcionar as referências internacionais, mas também para balizar decisões comerciais ao longo da cadeia produtiva. Ajustes nos dados de produção, consumo e estoques tendem a redefinir expectativas sobre margens de esmagamento, níveis de exportação e custos de reposição de insumos, afetando desde tradings globais até o produtor rural no interior dos estados brasileiros.