A proposta de redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2025 causou surpresa entre participantes em todo o país. Aplicada no último domingo, a prova apresentou o tema “Perspectivas acerca do envelhecimento na sociedade brasileira”, considerado amplo por professores e estudantes que esperavam um recorte mais específico. A primeira etapa do exame também incluiu questões de Linguagens e Ciências Humanas; a segunda fase ocorrerá no próximo domingo, 16 de novembro, com Matemática e Ciências da Natureza.
Para o professor de redação Matheus Antenor Gomes, que acompanha turmas de ensino médio em Três Lagoas (MS), a escolha dialoga diretamente com debates de geografia e sociologia sobre a transição demográfica no país. Segundo ele, a inversão gradual da pirâmide etária, marcada pelo aumento proporcional de idosos e pela queda da taxa de natalidade, fornece diversos caminhos argumentativos ao candidato. “Desigualdades, preconceitos, qualidade de vida e políticas públicas tornaram-se pontos centrais”, apontou o docente ao avaliar a abrangência do tema.
Gomes ressaltou que a surpresa se concentrou menos no assunto em si e mais na forma como foi apresentado. Em edições anteriores, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) costumava delimitar o recorte com maior precisão, exigindo do candidato um recorte temático específico. Desta vez, a proposta permitiu que cada participante determinasse o eixo de abordagem, contanto que permanecesse alinhado às múltiplas perspectivas sobre o envelhecimento.
Logo após a divulgação do caderno de provas, o professor reuniu seus alunos para avaliar como cada um desenvolveu o texto dissertativo-argumentativo de até 30 linhas. A maior parte relatou ter focado nas dificuldades de acesso à saúde, ao lazer e à convivência social enfrentadas pela população idosa. Também ganharam destaque reflexões sobre preconceito etário e a escassa valorização da experiência dos mais velhos em um mercado de trabalho orientado pela alta produtividade.
A estudante Laura Correa Canovas, 16 anos, fez o Enem pela primeira vez e relatou surpresa inicial, mas avaliou que o tema manteve coerência com a linha adotada nos últimos anos, centrada em grupos que enfrentam vulnerabilidades sociais. “Consegui elaborar minhas teses e argumentos ao relacionar a falta de políticas públicas específicas e o desrespeito à dignidade dos idosos”, comentou.
Marcela Gomes Medeiros, 18 anos, destacou a utilidade dos textos motivadores incluídos no caderno. Para ela, as referências direcionaram o raciocínio dos candidatos ao ampliar a visão sobre o processo de envelhecimento. Segundo a estudante, sem essa contextualização muitos poderiam restringir a discussão a estereótipos sobre a terceira idade e, consequentemente, fugir do tema proposto.
O professor Matheus observou que a discussão em sala de aula havia abordado envelhecimento populacional, mas não com a profundidade exigida pelo exame. “A amplitude surpreendeu porque exigiu conexão entre dados demográficos, dimensões sociais e elaboração de propostas de intervenção viáveis”, analisou. Ele lembrou que, na produção textual do Enem, além de apresentar tese e argumentos consistentes, o candidato deve sugerir soluções concretas, detalhando agente responsável, ação, meio de execução e o efeito esperado.
Com a primeira etapa encerrada, os participantes retornam às salas no domingo, 16, para responder a 45 questões de Matemática e 45 de Ciências da Natureza. Gomes recomenda que os estudantes priorizem descanso na véspera, revisem fórmulas e conceitos de maneira pontual e, sobretudo, mantenham atenção ao enunciado. “Boa parte das respostas pode ser encontrada na leitura cuidadosa dos textos de apoio e dos próprios itens; calma e foco são fundamentais”, orientou.
O Enem é porta de entrada para programas federais como Sistema de Seleção Unificada (Sisu), Programa Universidade para Todos (Prouni) e Fundo de Financiamento Estudantil (Fies). Além disso, pode ser utilizado em processos seletivos de instituições de ensino superior estrangeiras. Por essa razão, a redação tem peso relevante na pontuação final, chegando a valer mil pontos. Erros de interpretação do tema, fuga ao gênero dissertativo-argumentativo ou ausência de proposta de intervenção podem resultar em nota zero, independentemente do desempenho nas demais áreas.
Com a divulgação do tema deste ano, especialistas voltaram a recomendar que estudantes acompanhem debates sobre questões sociais de forma contínua. A expectativa é de que o Inep mantenha a tendência de escolher assuntos de relevância coletiva, incentivando a reflexão sobre direitos, deveres e transformações estruturais no Brasil contemporâneo. Embora o envelhecimento populacional não estivesse entre as principais apostas, a discussão já vinha sendo apontada como questão central para as próximas décadas em relatórios de organismos internacionais de saúde e desenvolvimento.
A correção das redações é realizada por, no mínimo, dois avaliadores independentes. Caso a diferença entre as notas atribuídas seja superior a 100 pontos, um terceiro corretor é acionado; se a divergência persistir, a prova passa por banca especializada. O resultado final do exame, com as médias das cinco áreas de conhecimento e da redação, deverá ser divulgado no início de 2026, conforme cronograma oficial a ser informado pelo Ministério da Educação.








