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Mato Grosso do Sul registra 174 mil pessoas com deficiência; inclusão ainda enfrenta barreiras atitudinais, afirma presidente do ISMAC

No Dia Internacional da Pessoa com Deficiência, comemorado em 3 de dezembro, o presidente do Instituto Sul-Mato-Grossense para Cegos (ISMAC), José Aparecido de Souza, conhecido como Cidinho, destacou a necessidade de ampliar o alcance de políticas públicas destinadas à população com deficiência no estado. Em entrevista concedida a uma emissora de rádio da capital, ele detalhou números do Censo 2022 do IBGE que apontam 174.860 moradores com algum tipo de deficiência em Mato Grosso do Sul, dos quais 96 mil apresentam deficiência visual.

Segundo o dirigente, o volume de pessoas com deficiência visual reforça a importância de que famílias busquem o ISMAC para garantir serviços de educação, reabilitação e inserção no mercado de trabalho. Apesar da estimativa de 96 mil sul-mato-grossenses nessa condição, apenas 2.500 estão cadastrados na instituição. “O desafio é fazer com que essas pessoas cheguem até nós para terem acesso às oportunidades existentes”, afirmou.

Cidinho ressaltou que, embora estruturas físicas acessíveis sejam fundamentais, o principal obstáculo ainda é atitudinal. Para ele, legislações como a Lei Brasileira de Inclusão (LBI) completam dez anos com um arcabouço sólido, porém carecem de aplicação efetiva. “As normas estão postas; falta colocá-las em prática”, comentou, apontando comportamentos discriminatórios e falta de informação como fatores que mantêm barreiras sociais vivas.

O presidente do ISMAC também comentou o índice de analfabetismo entre jovens e adultos com deficiência, evidenciado pelo Censo. Embora a legislação determine responsabilidade do poder público na educação inclusiva e apoio a escolas especializadas, ele observa ausência de preparo técnico nas salas regulares. “Sem formação adequada, muitos professores não conseguem oferecer o suporte necessário, e o aluno avança de série sem aprendizagem real”, explicou, relacionando o problema a taxas elevadas de reprovação e evasão.

Além das dificuldades no ensino básico, Cidinho mencionou entraves na capacitação profissional. Segundo ele, iniciativas de qualificação específicas para pessoas com deficiência visual são insuficientes, o que limita a participação desse grupo no mercado formal. O presidente avalia que a falta de informação sobre tecnologias assistivas e a ausência de adaptações nos ambientes de trabalho contribuem para a baixa inclusão laboral.

Como estratégia de sensibilização, o instituto promove anualmente o Mês Social do Cego, celebrado em dezembro. A programação reúne atividades culturais, esportivas, educacionais e de promoção de direitos, funcionando como vitrine das discussões realizadas ao longo do ano. Nesta edição, o evento destaca o décimo aniversário da LBI, o crescimento do paradesporto e ações voltadas à empregabilidade.

Durante o Mês Social, o ISMAC oferece oficinas de braile, cursos de orientação e mobilidade, campeonatos de futebol de cinco, apresentações musicais e palestras sobre legislação. O objetivo é mostrar à sociedade o potencial produtivo e criativo das pessoas com deficiência visual, além de fortalecer a rede de apoio entre famílias, empresas e poder público.

Cidinho enfatizou que a inclusão é responsabilidade compartilhada. Para ele, cabe ao governo garantir recursos, fiscalizar o cumprimento das leis e promover programas de acessibilidade, enquanto a sociedade civil deve colaborar com doações e trabalho voluntário. “A instituição é filantrópica e depende de parcerias para manter suas atividades”, frisou, lembrando que investimentos em tecnologia assistiva, capacitação de profissionais e adaptação de espaços são determinantes para ampliar a independência dos usuários.

O presidente do ISMAC citou ainda iniciativas em andamento para ampliar a cobertura de serviços no interior do estado. Entre elas, está a criação de polos regionais de atendimento, que permitirão oferta de cursos de reabilitação e orientação a distância, reduzindo a necessidade de deslocamento até Campo Grande. “Queremos alcançar municípios menores, onde muitas vezes não há qualquer suporte especializado”, observou.

Para acelerar os avanços, Cidinho defende campanhas permanentes de conscientização sobre direitos das pessoas com deficiência, treinamento contínuo de servidores públicos e incentivo fiscal a empresas que contratem profissionais com deficiência visual. Ele acredita que a combinação dessas medidas pode reduzir as lacunas entre a legislação e a realidade vivida por milhares de sul-mato-grossenses.

Ao encerrar a entrevista, o dirigente reforçou o convite para que famílias, educadores e empregadores procurem o ISMAC ou demais entidades de apoio sempre que houver dúvida sobre acessibilidade, tecnologia assistiva ou processos de inclusão. “Quanto mais cedo o atendimento começar, maiores são as chances de autonomia e qualidade de vida”, concluiu.

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