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Câmara de Três Lagoas promove painel sobre representatividade e igualdade racial

A Câmara Municipal de Três Lagoas abriu, na quarta-feira, 19 de novembro, espaço para o debate sobre a realidade da população negra no município e no país. O painel “Vozes Negras que Inspiram”, organizado pela Procuradoria da Mulher da Casa de Leis, antecedeu o Dia da Consciência Negra, celebrado em todo o território nacional nesta quinta-feira, 20, e reuniu educadoras, lideranças comunitárias e vereadoras para discutir desafios, avanços e perspectivas de políticas públicas voltadas à igualdade racial.

O encontro ocupou o plenário do Legislativo municipal com estudantes, servidores, representantes de movimentos sociais e moradores que acompanharam as exposições das convidadas. A programação foi estruturada em falas sucessivas que abordaram temas como representatividade, reparação histórica, acesso à educação, mercado de trabalho e participação política de pessoas negras. Ao longo das intervenções, as palestrantes reforçaram que o 20 de Novembro não se resume a comemorações pontuais, mas deve ser encarado como momento de conscientização permanente e fortalecimento da luta por direitos.

Educação como eixo de transformação

A professora Cidolina Silva abriu o debate destacando a necessidade de acelerar políticas de reparação. Segundo ela, instrumentos como o sistema de cotas em universidades e concursos públicos já demonstram resultados positivos, mas ainda enfrentam resistência e precisam ser ampliados. A docente defendeu que a educação continue no centro das estratégias de combate às desigualdades, pois oferece condições para que a população negra dispute vagas de trabalho em condições de equidade. Em sua avaliação, o foco deve deixar de ser igualdade abstrata e avançar para mecanismos concretos de equiparação de oportunidades entre brancos e negros.

Também participante do painel, a professora de Educação Especial Luciana Cardoso do Nascimento Silva chamou a atenção para a importância de reconhecer o 20 de Novembro como data de reflexão crítica. Para ela, comemorações isoladas correm o risco de esvaziar o sentido histórico da resistência negra no país. A educadora enfatizou que pensar políticas de igualdade racial implica revisitar o passado escravocrata, analisar o cenário atual de discriminação e projetar ações que garantam cidadania plena.

Valorização da cultura afro-brasileira

A professora Maria Laura dos Santos concentrou sua exposição na relevância de ocupar espaços de fala e difundir a cultura de matriz africana dentro e fora da escola. Ela argumentou que crianças e adolescentes precisam ter contato com referências positivas que desconstruam preconceitos ainda perpetuados no cotidiano. Segundo a palestrante, iniciativas culturais, atividades pedagógicas e presença de profissionais negros em posições de destaque contribuem para ampliar a autoestima de estudantes e criar ambiente mais inclusivo.

Vozes do Legislativo

No campo político, a vereadora Sirlene dos Santos utilizou a tribuna para defender o fortalecimento de políticas públicas que garantam respeito e oportunidade a toda população. Ela salientou que o preconceito racial ainda se manifesta em diversas esferas e destacou a urgência de ampliar a participação de mulheres, especialmente negras, em cargos eletivos. A parlamentar avaliou que maior representatividade resulta em elaboração de leis mais sensíveis às demandas de trabalho, educação e combate à violência.

Responsável pela proposição do evento, a vereadora Evalda Reis, que atua na Procuradoria da Mulher da Câmara, lembrou o impacto histórico da escravidão no Brasil e afirmou que a visibilidade dada às mulheres negras durante o painel reforça a busca por justiça social. Para ela, reunir trajetórias diversas em um mesmo espaço contribui para ampliar o diálogo com a sociedade e inspirar novas gerações.

Continuidade da mobilização

Ao final das apresentações, as participantes convergiram na avaliação de que a Consciência Negra precisa extrapolar a marcação do calendário. A mensagem comum foi a de que a construção de uma sociedade igualitária demanda ações permanentes, como fiscalização de políticas afirmativas, incentivo à formação acadêmica, estímulo ao empreendedorismo, preservação de expressões culturais de origem africana e combate sistemático a práticas discriminatórias.

O painel “Vozes Negras que Inspiram” encerrou-se com convite à plateia para que se torne multiplicadora das discussões realizadas no plenário. As organizadoras reiteraram a disposição de manter diálogo aberto com escolas, universidades, órgãos públicos e iniciativa privada a fim de fortalecer redes de apoio à população negra de Três Lagoas. Ao longo das quase duas horas de evento, o público foi instado a reconhecer avanços recentes, sem perder de vista as barreiras que ainda limitam o acesso de pessoas negras a direitos básicos, como educação de qualidade, saúde, emprego formal e representatividade nos espaços de poder.

Com a iniciativa, a Câmara Municipal de Três Lagoas destacou a importância de transformar o Dia da Consciência Negra em ponto de partida para ações efetivas, lembrando que a luta contra o racismo estrutural exige mobilização coletiva e diálogo contínuo entre sociedade civil e poder público.

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