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Embrapa apresenta ferramenta que mede sustentabilidade de fazendas no Pantanal

A Embrapa Pantanal apresentou, durante a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP 30), realizada em Belém (PA), a ferramenta Fazenda Pantaneira Sustentável (FPS). O instrumento foi criado para avaliar o nível de sustentabilidade de propriedades rurais no Pantanal a partir de três vertentes — ambiental, econômica e social — e busca conciliar a produção pecuária com a conservação do bioma.

O Pantanal, reconhecido como a maior planície alagável do planeta, alterna períodos de cheia e seca que influenciam diretamente a biodiversidade e as atividades agropecuárias locais. Nessa região, a pecuária é uma das principais bases econômicas, mas enfrenta o desafio de adaptar práticas produtivas às particularidades ambientais. A FPS foi desenvolvida para apoiar produtores nesse ajuste, oferecendo um diagnóstico abrangente que orienta decisões de manejo e acesso a financiamentos voltados a boas práticas.

Construída a partir da integração de ciência, gestão e inteligência artificial, a ferramenta utiliza indicadores quantitativos e qualitativos para classificar cada fazenda. O resultado permite ao proprietário identificar pontos fortes, fragilidades e oportunidades de melhoria em questões como uso do solo, conservação da vegetação nativa, bem-estar animal, geração de renda e condições de trabalho.

Antes de chegar à COP 30, o sistema passou por cinco anos de testes em propriedades-piloto de Mato Grosso. A etapa piloto envolveu diferentes perfis de fazendas, possibilitando ajustes no método de coleta de dados e na ponderação dos indicadores. Com essa fase concluída, a FPS iniciou sua expansão para o lado sul do bioma: oito propriedades de Mato Grosso do Sul, somando cerca de 110 mil hectares, já começaram a aplicar o protocolo.

Segundo a Embrapa Pantanal, a adoção da ferramenta cria bases para um processo de creditação que pode abrir portas a recursos não reembolsáveis direcionados a iniciativas sustentáveis. Ao mesmo tempo, oferece garantia técnica e ambiental a investidores interessados em operações reembolsáveis, elevando o nível de confiança do mercado em empreendimentos rurais instalados no Pantanal.

A implementação prática do programa conta com a participação da Coalizão Pontes Pantaneiras, grupo coordenado pela Embrapa que reúne instituições públicas, privadas e do terceiro setor. Entre os parceiros estão o Ministério da Agricultura e Pecuária, a Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso (Famato), o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural de Mato Grosso (Senar-MT), o Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea) e a plataforma de inovação AgriHub.

Também integram a iniciativa o Governo do Estado de Mato Grosso, a Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat), o Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ), a organização Pew Charitable Trusts, o Smithsonian Institution e a University College London (UCL). Essa rede de cooperação permite agregar conhecimento científico, experiência de campo e ferramentas de gestão, além de facilitar a captação de recursos para escalonar o projeto.

No aspecto ambiental, a FPS avalia critérios como conservação de áreas úmidas, manutenção de corredores de fauna, manejo de pastagens nativas e práticas de recuperação de solos. Na dimensão econômica, são analisados indicadores de produtividade, eficiência no uso de insumos, diversificação de receitas e capacidade de investimento. Já no campo social, o programa observa condições de trabalho, capacitação de funcionários, segurança no ambiente laboral e impacto na comunidade local.

A Embrapa Pantanal informou que todos os dados coletados passam por validação técnica e geram relatórios individualizados. Esses relatórios indicam metas de curto, médio e longo prazo para que cada fazenda avance nos três pilares de sustentabilidade. Ao final de cada ciclo de avaliação, propriedades que atingem pontuações definidas pelo programa podem receber selos que as qualificam para acessar linhas de crédito específicas ou participar de mercados diferenciados.

O lançamento oficial na COP 30 foi visto pela Embrapa como uma oportunidade estratégica para inserir o tema da pecuária pantaneira nas discussões climáticas globais. A instituição ressaltou que o Pantanal é considerado um hotspot de conservação e que a adoção de práticas produtivas alinhadas aos limites ambientais do bioma pode contribuir para a redução de emissões de gases de efeito estufa, além de preservar serviços ecossistêmicos como armazenamento de água e manutenção da biodiversidade.

Com a fase de expansão em andamento, o objetivo é ampliar o número de propriedades participantes em Mato Grosso do Sul nos próximos anos e, posteriormente, levar o modelo a outras regiões do bioma. A expectativa da Embrapa é que a ferramenta se torne referência nacional para a avaliação de sustentabilidade em áreas alagáveis, auxiliando produtores na adequação às exigências de mercado e às metas de mitigação climática.