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Adaptação de “Heathers” estreia em Campo Grande com foco em bullying e empatia

O Teatro Allan Kardec, em Campo Grande, recebe no próximo sábado, 15 de novembro, às 19h, a primeira apresentação da versão sul-mato-grossense de Heathers – O Musical. A montagem, inspirada no espetáculo cult da Off-Broadway, une música, humor ácido e crítica social para abordar temas sensíveis como bullying, suicídio e empatia entre adolescentes.

Dirigida por Clara Lanzoni, a produção reúne 25 jovens artistas e produtores vinculados à Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS). O grupo ensaia desde maio para adaptar o texto original ao contexto local, incorporando gírias, situações e referências regionais com o objetivo de aproximar a narrativa do público campo-grandense.

De acordo com a diretora, o processo criativo foi marcado por momentos de forte carga emocional. A equipe passou por ensaios intensos em que cenas sobre rejeição, pressão social e saúde mental provocaram reações diversas no elenco. Ainda assim, o foco permaneceu em encontrar um equilíbrio que permitisse tratar assuntos delicados sem perder a leveza característica do gênero musical.

“Queremos que o público reflita sobre o impacto da falta de acolhimento e sobre a importância de olhar para o outro com empatia”, afirma Clara. A encenação preserva a essência da obra original ao retratar conflitos típicos do ambiente escolar, mas enfatiza que a mensagem vai além da adolescência, alcançando qualquer pessoa que já tenha testemunhado ou sofrido exclusão.

A proposta artística também se conecta a um movimento maior: fortalecer a cena de teatro musical independente em Mato Grosso do Sul. Responsável pela produção, a Vinci Produções aposta em títulos reconhecidos para atrair espectadores e abrir espaço para novos profissionais do estado. Segundo os organizadores, o trabalho em Heathers envolve múltiplas áreas, de cenografia a iluminação, e oferece experiência prática a estudantes que buscam carreira no setor cultural.

A narrativa acompanha Veronica Sawyer, jovem que tenta sobreviver à rígida hierarquia social de sua escola, dominada por um trio popular de colegas chamado Heathers. Conforme a protagonista se envolve com um novo aluno, J.D., episódios de violência psicológica e física se intensificam, levando a enredos que questionam padrões de comportamento e desafiam estereótipos. Embora a trama seja situada em um colégio norte-americano dos anos 1980, a adaptação procura evidenciar semelhanças com a realidade brasileira, destacando como o preconceito e a omissão ainda afetam a convivência entre jovens.

Para compor essa atmosfera, a equipe investiu em trilha sonora executada ao vivo, coreografias que misturam estilos contemporâneos e figurinos inspirados na cultura pop local. O cenário, projetado para rápida mudança de ambientes, reproduz tanto salas de aula quanto espaços de convivência típicos de centros urbanos do Centro-Oeste.

Os ensaios ocorreram no campus da UFMS e incluíram rodas de conversa sobre saúde mental, mediadas por psicólogos convidados. A intenção foi garantir que o elenco compreendesse a gravidade dos temas representados e se sentisse seguro para abordá-los em cena. Essas atividades formativas, segundo a direção, resultaram em maior coesão do grupo e contribuíram para o tom de verossimilhança na interpretação.

Os ingressos para a sessão de estreia estão disponíveis por meio do perfil @vinciproducoes nas redes sociais. A classificação indicativa é de 14 anos, devido ao conteúdo que envolve violência simbólica e menções a suicídio. O teatro fica na Avenida América, 653, bairro Vila Planalto, e tem capacidade para aproximadamente 300 pessoas.

Após a apresentação inaugural, a produção planeja manter temporada em datas alternadas até o fim do ano, caso a demanda de público se confirme. A direção informa que alunos de escolas estaduais e particulares serão convidados para sessões educativas, que incluem debates pós-espetáculo sobre prevenção ao bullying.

Além de promover reflexão, Heathers – O Musical pretende consolidar parcerias entre universidades, coletivos artísticos e empresas locais que financiam projetos culturais por meio de leis de incentivo. Para Vinci Produções, iniciativas desse tipo aproximam a população de temas sociais relevantes e demonstram o potencial econômico do setor criativo na região.

A estreia deste sábado representa, portanto, o resultado de seis meses de trabalho colaborativo, alinhando entretenimento a responsabilidade social. Ao transpor para o palco histórias de dor, superação e solidariedade, o espetáculo busca envolver plateias variadas e reforçar a mensagem de que pequenos gestos de empatia podem transformar ambientes marcados pela exclusão.