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Marta é aplaudida de pé na ONU: "O preconceito e a falta de oportunidade já me doeram"

Anualmente, o Comitê Olímpico Internacional promove, na sede da ONU (Organização das Nações Unidas) em Nova York, o COI Women and Sport Trophy, quando premiam instituições e pessoas que contribuem na luta das mulheres por igualdade de gênero no esporte. Seis troféus foram dados a confederações e personalidades anônimas do grande público internacional, mas que possuem grande importância na caminhada para o equilíbrio entre homens e mulheres no esporte.
Premiados
Djatougbe “Nathalie” Noameshie (Togo) – primeira árbitra de vôlei do continente africano
Comissão de Mulher e Esporte da Costa Rica
Saada Al-Ismaili (Omã) – ativista esportiva no país
Morana Palikovic Gruden (Croácia) – jornalista
Confederação de Vôlei de Vanuatu
Po Chun Liu (China) – advogada da confederação internacional de beisebol
No entanto, foi uma brasileira, convidada de honra do evento, quem roubou a cena. Eleita seis vezes a melhor jogadora de futebol do mundo, Marta fechou a cerimônia da noite desta terça-feira com um discurso emocionado sobre sua trajetória de vida e de esportista. Parou para chorar por muitas vezes e terminou aplaudida de pé por cerca de 250 pessoas que ocupavam um salão da Organização das Nações Unidas.
– Minha vida não foi fácil. Nasci em uma cidade de 11 mil habitantes, no interior do estado de Alagoas, no norte do Brasil, em uma família pobre. Meu pai, (pausa para choro e é aplaudida) como muitos pais até hoje, saiu de casa quando eu tinha menos de um ano de idade e minha mãe teve que trabalhar muito duro pra sustentar meus três irmãos e eu. Talvez o dia-a-dia exaustivo de trabalho não dava tempo para minha mãe prestar atenção ao falatório na cidade sobre o absurdo que era uma menina jogar futebol no meio de meninos.
Marta lembrou passo a passo de sua caminhada rumo ao topo do mundo e destacou o sacrifício em deixar a família desde cedo, na cidade de Dois Riachos, em Alagoas. A brasileira também não esqueceu da discriminação que sofreu.
– O preconceito e a falta de oportunidade já me doeram ao longo do meu caminho. Doeu quando meninos não me deixaram jogar. Doeu quando treinadores me tiravam dos campeonatos porque eu era apenas uma menina. Doeu quando deixei minha família com 14 anos de idade para enfrentar três dias de viagem de ônibus (pausa para choro) com dinheiro contado no bolso e ir morar sozinha no Rio de Janeiro para jogar futebol profissional. Mas minha certeza de onde eu iria chegar nunca me deixou desistir.
Marta é uma das quatro embaixadoras da ONU Mulheres. Frequentemente, a craque brasileira participa de ações da organização que visam desenvolver o esporte para meninas com dificuldades de acesso a cultura, educação e saúde ao redor do mundo. Marta sabe que é uma grande referência internacional para as jovens, mas não quer ficar sozinha lá no alto.
– Aceitei esse convite no ano passado e vim com muita felicidade para inspirar ainda mais jovens a persistir, porque eu não quero ser uma excessão. O esporte é uma importante ferramenta para o caminho da igualdade de gênero. (…) Mas eu preciso lembrar que nem todas as meninas esforçadas e talentosas vão chegar onde eu cheguei. Muitas delas ficaram ou ficarão pelo caminho, porque vão enfrentar barreiras muito maior do que elas. Globalmente, nós da ONU Mulheres assumimos o compromisso de alcançar a igualdade de gênero até 2030. Há muito o que ser feito em tão pouco tempo e convido a cada um de vocês para se unirem a mim, a ONU Mulheres e ao COI para investir no desenvolvimento das meninas no esporte. É nosso compromisso que a igualdade de gênero em todas as áreas não seja mais um sonho e sim a realidade. Muito obrigada.