São Paulo, dezembro – O mercado brasileiro de boi gordo entra no último mês do ano pressionado por escassez de animais prontos para abate e por uma disputa mais intensa entre grandes, médias e pequenas indústrias frigoríficas. Essa combinação sustenta as cotações e mantém a expectativa de novas valorizações nas principais praças de produção.
Oferta enxuta reforça competição
Nas unidades de maior porte, boa parte dos lotes de confinamento foi contratada anteriormente por meio de acordos a termo. Com essas entregas garantidas, tais plantas reduzem sua participação nas compras à vista. Já frigoríficos de pequeno e médio porte dependem quase totalmente de negociações diárias, o que os obriga a disputar cada lote disponível no mercado físico.
A diferença de estratégias ocorre justamente em um período de demanda interna aquecida e exportações firmes. A expectativa de maior embarque de carne bovina para os Estados Unidos entre janeiro e fevereiro adiciona pressão sobre um volume de gado que já é limitado, tornando a oferta de boi gordo o fator central na formação de preços.
Menor participação de fêmeas no abate
Outro elemento que contribui para o cenário de restrição é a mudança observada na composição do abate nos últimos anos. Houve elevação da participação de fêmeas em ciclos anteriores, o que resultou em menor disponibilidade atual de vacas e novilhas terminadas. No fim de 2023, a oferta de fêmeas recua e, simultaneamente, a de machos prontos para abate não é abundante, reduzindo ainda mais o volume geral de gado de corte.
Possibilidade de apagão de oferta em algumas regiões
Analistas apontam risco de falta de animais em determinados polos, especialmente no Norte e em áreas pontuais do Centro-Oeste. A previsão é de que estados com maior capacidade de abate, como São Paulo, busquem gado em outras regiões para manter as escalas, intensificando a competição por lotes. Mato Grosso do Sul tende a entrar nesse movimento à medida que amplia a capacidade de exportação.
Preços mostram firmeza apesar de ajustes pontuais
Mesmo com o ambiente de sustentação, ajustes foram registrados na terça-feira mais recente. De acordo com levantamento da Scot Consultoria, no pagamento a prazo de 30 dias, sem descontos de Funrural e Senar, as referências ficaram em R$ 315,00 por arroba em Três Lagoas e em R$ 316,00 por arroba tanto em Campo Grande quanto em Dourados. Oscilações pontuais são vistas como naturais, mas o pano de fundo permanece de firmeza devido à oferta curta.
Produtor monitora relação de troca
Com pouca boiada sobrando, menor número de fêmeas e demanda externa consistente, pecuaristas acompanham de perto a possibilidade de novos ganhos nas próximas semanas. Ao mesmo tempo, observam o custo de reposição e a relação de troca com o bezerro, fatores essenciais para definir estratégias de venda e investimento no início de 2024.
Em síntese, a combinação de oferta limitada, competição mais acirrada entre frigoríficos e perspectivas positivas para as exportações forma um ambiente de preços sustentados no mercado do boi gordo. A continuidade desse quadro dependerá da chegada de novos lotes de animais terminados e do comportamento da demanda interna e externa no primeiro bimestre do ano que vem.








