A Receita Federal e a Polícia Federal desencadearam, na manhã desta quarta-feira (4), a Operação Uxoris, que apura a atuação de um grupo suspeito de importar mercadorias de forma irregular e de lavar os lucros obtidos com essas operações. As investigações se concentram em revendas on-line e estabelecimentos físicos sediados em Campo Grande, mas já alcançam outros Estados por causa da distribuição nacional dos produtos.
De acordo com os levantamentos realizados pelas duas instituições, os integrantes da organização introduziam no território brasileiro grandes volumes de itens estrangeiros sem a documentação fiscal exigida e sem o registro aduaneiro obrigatório. Depois da entrada clandestina, os produtos eram encaminhados a depósitos e lojas vinculados ao grupo e, em seguida, oferecidos a consumidores de todo o país por meio de marketplaces e pontos de venda próprios.
Os investigadores identificaram que o pagamento aos fornecedores internacionais era feito por meio de dólar-cabo, método informal de remessa que prescinde de registro em órgãos de controle e dificulta o rastreamento da origem dos recursos. Essa prática, segundo a Polícia Federal, permitia ocultar tanto a procedência dos valores quanto a identidade dos beneficiários, ao mesmo tempo em que facilitava a conversão rápida do dinheiro em mercadorias.
Além da utilização do sistema clandestino de câmbio, os responsáveis pelo esquema teriam recorrido a movimentações financeiras sucessivas para confundir os mecanismos de fiscalização. Foram encontrados indícios de repasses entre contas de empresas e pessoas físicas ligadas ao grupo, com o objetivo de mascarar o lucro obtido a partir das vendas irregulares.
Com autorização da Justiça Federal, agentes cumpriram nove mandados de busca e apreensão em endereços localizados em Mato Grosso do Sul e São Paulo. Entre os locais vistoriados estão residências, depósitos e sedes de empresas apontadas como parte da rede de importação ilegal. Durante as diligências, foram recolhidos documentos, computadores, telefones celulares e mercadorias que podem comprovar o funcionamento do esquema.
O mesmo despacho judicial determinou o bloqueio e o sequestro de bens pertencentes a 20 pessoas físicas e jurídicas investigadas. A medida alcança imóveis, veículos e valores em contas bancárias que, somados, chegam a aproximadamente R$ 40 milhões. Segundo a Receita Federal, o congelamento patrimonial visa evitar a dissipação dos recursos até a conclusão do processo.
Paralelamente, 14 empresas utilizadas nas operações suspeitas tiveram suas atividades suspensas. A decisão impede que os investigados continuem comercializando produtos enquanto a apuração estiver em andamento e busca estancar eventuais prejuízos ao erário decorrentes do não recolhimento de tributos.
O nome da operação faz referência à ex-esposa de um dos líderes do grupo. Foi ela quem procurou as autoridades e relatou ter sido usada como laranja para a abertura de empresas de fachada. Segundo o depoimento, seus documentos pessoais foram empregados sem consentimento para constituir firmas que, em tese, tinham finalidade legal, mas na prática serviam para encobrir a origem ilícita das mercadorias e do dinheiro.
Para a Receita Federal e a Polícia Federal, o caso evidencia a existência de uma estrutura organizada que combinava atividades formais e informais para driblar a fiscalização tributária e aduaneira. Parte das empresas administradas pelos suspeitos apresentava contabilidade regular, enquanto outra parcela operava à margem da lei, permitindo a entrada e a circulação de produtos sem pagamento de impostos.
Os investigados podem responder por contrabando, descaminho, lavagem de dinheiro e associação criminosa, entre outros delitos previstos no Marco Legal de Combate ao Crime Organizado. As penas variam conforme o enquadramento de cada conduta e podem superar 10 anos de reclusão em determinados casos.
As diligências continuam para identificar outros participantes, rastrear a origem de todas as cargas importadas e quantificar o montante de tributos sonegados. De acordo com a Polícia Federal, novas fases da operação não estão descartadas, especialmente se surgirem indícios de ramificações em outros Estados ou de envolvimento de estrangeiros no fornecimento das mercadorias.
Em nota conjunta, Receita Federal e Polícia Federal informaram que seguem analisando documentos e equipamentos apreendidos. As autoridades afirmam que a cooperação entre os órgãos de investigação e a atuação coordenada do Judiciário foram decisivas para o avanço das apurações e para o bloqueio dos bens relacionados ao esquema.








