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Produtores de leite bloqueiam acesso a laticínio em Deodápolis por atraso de 60 dias nos pagamentos

Produtores rurais de Deodápolis, município do sul de Mato Grosso do Sul, mantêm pelo segundo dia consecutivo um bloqueio na entrada do Laticínio Dica, situado às margens da rodovia MS-145, no trecho entre Deodápolis e Presidente Castelo. A manifestação, descrita pelos organizadores como pacífica, impede a circulação de caminhões de carga e busca pressionar a empresa a quitar valores referentes à compra de leite realizada no mês passado.

O grupo afirma que o pagamento deveria ter sido efetuado em 25 de outubro e já acumula 60 dias de atraso. De acordo com os produtores, a prática de postergar repasses se repete há meses, normalmente por alguns dias, mas a demora atual extrapolou o limite suportável pelos fornecedores. Os manifestantes relatam dificuldades para honrar compromissos financeiros, uma vez que parte considerável da renda das propriedades depende da venda regular do leite.

Fernando dos Anjos, um dos participantes do protesto, explica que os produtores deram início à mobilização na quarta-feira, 13 de dezembro, após diversas tentativas de negociação com a empresa. “Cada dia recebemos uma promessa diferente e nenhuma se concretiza. Queremos apenas o dinheiro referente ao leite já entregue”, afirma. Segundo ele, tão logo o laticínio efetue o pagamento, o bloqueio será encerrado e os manifestantes retornarão às atividades nas fazendas.

Outro fornecedor, identificado como Renato, detalha que atrasos menores já vinham sendo registrados, variando de três a cinco dias. No entanto, a postergação atual comprometeu o fluxo de caixa de pequenas propriedades familiares. “Temos contas a pagar e despesas que não podem ser adiadas. A paralisação é a única forma de chamar atenção para a situação”, argumenta.

Durante a primeira noite da mobilização, uma equipe da Polícia Militar esteve no local e acompanhou o ato. Os policiais orientaram os produtores a manter a passagem livre para veículos de passeio e a evitar qualquer tipo de confrontação, medida acatada pelo grupo. Até o momento, não foram registradas ocorrências de violência ou danos ao patrimônio.

O bloqueio concentra-se na portaria principal do laticínio, ponto de entrada e saída dos veículos que transportam o leite cru. Caminhões de coleta ficaram impossibilitados de chegar às instalações desde o início do protesto, o que interrompeu temporariamente o recebimento da matéria-prima e a distribuição dos produtos processados. Apesar da restrição, os manifestantes permitem a circulação de carros de funcionários e moradores da região para evitar transtornos à comunidade local.

Representantes dos produtores afirmam ter tentado contato direto com a direção do Laticínio Dica em diferentes ocasiões. Segundo eles, reuniões foram marcadas e canceladas, e os prazos informados pela empresa foram descumpridos repetidamente. A categoria cobra a apresentação de um cronograma concreto de pagamentos e a regularização definitiva do fluxo financeiro para retomar a confiança na relação comercial.

Procurado pela reportagem, o Laticínio Dica não respondeu aos pedidos de posicionamento até o fechamento deste texto. Não há informação sobre negociações em andamento ou propostas oficiais encaminhadas aos fornecedores para liquidar a dívida acumulada.

A cadeia produtiva do leite no estado envolve centenas de pequenos e médios pecuaristas que dependem do repasse mensal para garantir o custeio de ração, manutenção do rebanho e despesas operacionais das propriedades. Especialistas do setor apontam que atrasos prolongados afetam não apenas o produtor, mas todo o segmento, incluindo transportadores, fornecedores de insumos e trabalhadores ligados às unidades de beneficiamento.

Os manifestantes declaram que permanecerão no local até receberem os valores devidos. Caso não haja acordo, há possibilidade de ampliação do protesto para outras rotas de acesso ou mesmo a participação de produtores de municípios vizinhos. Por enquanto, as atividades seguem concentradas na MS-145, com a expectativa de que a paralisação pressione a empresa a apresentar uma solução rápida e evitar prejuízos adicionais a ambas as partes.