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Revisão da Conab amplia projeção de safra e pressiona preços do açúcar no mercado brasileiro

Os preços do açúcar voltaram a recuar na terça-feira depois de a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) revisar para cima sua estimativa de produção no Brasil. A atualização reforçou o cenário de oferta abundante no ciclo 2023/24 e manteve as cotações internas próximas das mínimas registradas na semana anterior.

A elevação da projeção oficial ocorre em momento em que as usinas adotam perfil mais açucareiro, direcionando maior proporção da cana-de-açúcar para o produto sólido em vez do etanol. Com isso, o volume disponibilizado ao mercado doméstico e às exportações cresce, intensificando a pressão sobre os preços tanto à vista quanto nos contratos futuros negociados nas bolsas.

Participantes do setor observam ainda que a combinação entre oferta elevada e baixo diferencial de valores transforma o ambiente de compra. Tradings e indústrias monitoram diariamente estratégias de hedge, composição de mix produtivo e fluxo de exportação para definir o melhor momento de travar preços e repor estoques. O comportamento do câmbio e o ritmo de fixações, segundo analistas, podem alterar a velocidade de ajuste das cotações ao longo das próximas semanas.

No campo, produtores acompanham atentamente o detalhe dos custos operacionais, a disponibilidade de cana e a janela de manutenção das usinas para preservar eficiência industrial. A expectativa é de que a margem continue pressionada caso o movimento de queda se consolide, o que tornaria indispensável calibrar investimentos e ajustar cronogramas de colheita.

Para o varejo, a sequência de recuos pode representar alívios pontuais nos preços ao consumidor final. O repasse, contudo, dependerá da intensidade da baixa no mercado de atacado, dos estoques existentes na cadeia de distribuição e das condições logísticas. Fonte de produtos como açúcar cristal, refinado e demerara, o Brasil desempenha papel relevante na formação de preços globais, de modo que mudanças internas costumam repercutir em cotações internacionais.

Sinal da Conab redefine expectativas

A revisão divulgada pela estatal acrescenta volume expressivo à oferta estimada inicialmente, ajustando as expectativas de agentes financeiros e comerciais. Embora o relatório não tenha apresentado números detalhados ao público na mesma data, o simples aumento nas projeções foi suficiente para alterar o sentimento de mercado. Operadores passaram a considerar mais provável a manutenção de disponibilidade confortável durante todo o restante da safra.

Historicamente, o Brasil figura como o maior produtor e exportador mundial de açúcar. Por isso, qualquer mudança nas previsões da Conab costuma exercer influência direta sobre os preços internos e externos. Nesta temporada, fatores como clima favorável em importantes regiões canavieiras e avanço tecnológico das usinas favoreceram índices de produtividade acima da média, o que também contribuiu para a revisão.

Contratos futuros e câmbio

Nas bolsas internacionais, o reflexo imediato do relatório brasileiro foi a redução dos prêmios pagos pelos contratos de curto e médio prazos. No mercado doméstico, comercializado em reais por tonelada, a cotação recuou, mas permaneceu ligeiramente acima do piso observado na semana passada. Especialistas apontam que a taxa de câmbio pode amortecer parte da queda, especialmente se o real sofrer desvalorização frente ao dólar, elevando a competitividade das exportações e limitando a pressão baixista.

O nível de fixações antecipadas também atua como variável de ajuste. Parte significativa da safra já foi fixada por usinas em meses anteriores, garantindo preços superiores aos atuais. No entanto, ainda resta volume relevante a ser negociado, situação que pode intensificar o movimento se as vendas forem concentradas em janelas curtas.

Monitoramento constante

Para as tradings, o foco está no planejamento logístico e na análise dos custos de frete internacional, uma vez que o aumento de oferta no Brasil ocorre paralelamente a expectativas de produção na Índia e na Tailândia, dois outros grandes fornecedores globais. Qualquer alteração nesses países, seja por questões climáticas ou políticas, pode causar repiques de volatilidade no mercado.

No lado da indústria nacional de alimentos e bebidas, o momento é visto como oportunidade de antecipar compras e reforçar estoque estratégico. Entretanto, empresas acompanham de perto variáveis como consumo interno, repasse tributário e dinâmica de exportação para evitar sobreposicionamento que comprometa capital de giro.

Enquanto a safra avança, a principal preocupação entre agricultores e gestores de usinas permanece na gestão de custos, especialmente fertilizantes, combustíveis e mão de obra. Caso as cotações do açúcar continuem cedendo, a eficiência operacional se torna ainda mais relevante para garantir margens positivas.

Por ora, o mercado segue atento aos próximos boletins da Conab e aos dados quinzenais de moagem a serem divulgados pelas associações setoriais. Esses relatórios devem confirmar se a oferta permanecerá superior ao previsto inicialmente ou se eventuais oscilações climáticas nas regiões produtoras podem limitar a produção na reta final da temporada.

Até que novas informações alterem o balanço de oferta e demanda, a tendência de preços se mantém em trajetória de baixa moderada, apoiada pelo excedente estimado. A perspectiva de eventual alívio no varejo dependerá da persistência desse movimento, do câmbio e do comportamento dos principais compradores internacionais nas próximas semanas.