O Censo Demográfico 2022, divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostra uma mudança no comportamento conjugal em Mato Grosso do Sul. Pela primeira vez, a união consensual — quando o casal convive junto sem registro civil ou religioso — tornou-se o modelo dominante no estado. Entre as pessoas com 10 anos ou mais que vivem em união, 41,2% estão nessa condição, enquanto 33% formalizaram o casamento tanto no cartório quanto na igreja.
No total, 1,2 milhão de sul-mato-grossenses mantêm algum tipo de relacionamento conjugal, correspondendo a 53% da população nessa faixa etária. Em 2010, a proporção era quase a mesma (52,2%), mas a composição dos arranjos familiares mudou. As uniões sem papel, que representavam 41% em 2010, passaram a liderar com ligeiro avanço, enquanto o casamento combinado entre civil e religioso recuou de 36,6% para 33%. No mesmo período, as celebrações apenas religiosas diminuíram de 2,8% para 2,3%, e os casamentos apenas civis cresceram de 18,8% para 23,4%.
Segundo o IBGE, fatores econômicos, culturais e religiosos ajudam a explicar a preferência pela convivência informal. Entre pessoas com rendimento de até um salário mínimo per capita, 56,3% optam por união consensual. Quando a renda situa-se entre meio e dois salários mínimos, os casamentos civil e religioso somados chegam a 56,4%. O instituto ressalta que os custos e a burocracia do casamento formal podem ser limitações para famílias de baixa renda, enquanto a maior independência financeira das mulheres e a flexibilização de normas sociais também influenciam o cenário.
Influência da religião
A fé interfere diretamente na forma de constituir família. Entre os evangélicos, 35,2% se casaram nos âmbitos civil e religioso e 32,6% apenas no civil, totalizando quase 68% em uniões formalizadas. Já entre católicos, espíritas, pessoas sem religião, praticantes de umbanda e candomblé e seguidores de tradições indígenas, prevalece a convivência sem registro. O percentual chega a 94,9% entre quem se identifica com tradições indígenas, 65,1% entre os sem religião e 61,5% entre adeptos de umbanda e candomblé.
Dissoluções em alta
O levantamento também registra aumento nas dissoluções conjugais, que incluem separações, divórcios e viuvez. Em 2022, 19,1% dos habitantes com 10 anos ou mais haviam passado por algum término, contra 15,4% em 2010 — crescimento de 38,3% em 12 anos. Com esse percentual, Mato Grosso do Sul ocupa a sexta posição entre os estados com maior frequência de dissoluções. Paralelamente, a parcela de pessoas que nunca viveram em união caiu de 32,4% para 27,9%, indicando que mais indivíduos entram em relacionamentos, mas também se separam ao longo da vida.
Diferenças por sexo e idade
Os dados do IBGE mostram que as mulheres jovens mantêm mais relacionamentos do que os homens. Até os 39 anos, 46,1% delas vivem em união, formal ou não, frente a 38,8% dos homens. Entre 40 e 49 anos, a tendência se inverte: 22,9% dos homens permanecem em união, contra 22,5% das mulheres. A disparidade cresce na população idosa: 20,2% dos homens com 60 anos ou mais continuam casados ou em união, proporção que cai para 14,7% entre as mulheres. O instituto atribui a diferença à maior expectativa de vida feminina, que eleva o número de viúvas.
Panorama municipal
Entre os municípios sul-mato-grossenses, Paraíso das Águas apresenta a maior taxa de pessoas em união conjugal, com 63,9% dos moradores. Na sequência estão Jateí (61,2%) e Inocência (60,9%). No outro extremo, Paranaíba concentra o maior percentual de indivíduos que já viveram relacionamento, mas não estão unidos no momento: 22,3% da população. Paranhos (22,05%) e Maracaju (21,7%) aparecem em seguida nessa categoria.
Ao se analisar o conjunto dos dados, o Censo 2022 confirma a diversificação dos arranjos familiares em Mato Grosso do Sul. O casamento formal, antes predominante, perde espaço para modelos mais flexíveis, influenciados por renda, crenças religiosas, mudanças culturais e maior autonomia individual. A prevalência da união consensual, o aumento das dissoluções e o recuo das celebrações religiosas demonstram que as relações afetivas no estado acompanham um movimento nacional de redefinição de padrões e valores sociais.









