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Conselho de Farmácia aponta crime em rifa de remédio emagrecedor promovida por loja de brinquedos

Uma loja de brinquedos situada no Bairro Moreninhas, em Campo Grande (MS), foi denunciada por anunciar, em suas redes sociais e em um perfil de mensagens, a venda direta e a rifa de um medicamento emagrecedor à base de tirzepatida. O Conselho Regional de Farmácia de Mato Grosso do Sul (CRF-MS) esclarece que tanto a comercialização quanto a oferta em forma de sorteio configuram crime previsto na legislação brasileira, cabendo responsabilização criminal e possível atuação da Polícia Federal.

O episódio veio a público após imagens divulgadas pelo próprio estabelecimento mostrarem a propaganda do produto e a convocação para participação na rifa. Segundo o CRF-MS, a tirzepatida utilizada para perda de peso não possui registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). A ausência de regularização enquadra a conduta no artigo 273 do Código Penal, que trata da fabricação, importação, venda ou distribuição de medicamentos sem registro, com pena prevista de um a três anos de reclusão, além de multa.

Procurada pela reportagem, a proprietária da loja afirmou desconhecer a ilegalidade. De acordo com ela, o negócio tem como foco a venda de brinquedos e carregadores, e a publicação que circulou seria apenas um relato sobre o uso do medicamento por terceiros. Entretanto, as postagens registradas exibem valores, condições de compra e regras da rifa, o que, para o conselho profissional, configura oferta direta de um produto sujeito a controle sanitário.

O CRF-MS reforça que qualquer forma de importação, exposição à venda, entrega ou distribuição de substâncias sem autorização da Anvisa caracteriza crime de contrabando e crime contra a saúde pública. Além da responsabilidade criminal, o responsável pode ser autuado pelos órgãos sanitários e responder a processos administrativos. A entidade lembra que medicamentos sujeitos a regime especial, como os que contêm tirzepatida, só podem ser adquiridos com prescrição médica e dentro de circuitos legalmente estabelecidos.

A orientação do conselho é de que cidadãos que identifiquem práticas semelhantes entrem em contato com a ouvidoria do órgão, pelo telefone (67) 3325-8090, para formalizar denúncia. Após análise preliminar, o CRF-MS encaminha as informações aos departamentos competentes, entre eles vigilância sanitária, polícia judiciária e Ministério Público. No caso específico da tirzepatida, devido à repercussão nacional do uso off-label e ao risco potencial à saúde, o órgão recomenda que a comunicação seja feita diretamente à Polícia Federal.

A comercialização irregular de medicamentos se tornou mais visível com a popularização de substâncias associadas ao emagrecimento rápido. De acordo com o CRF-MS, o apelo estético e a divulgação em redes sociais favorecem esquemas de venda informal em lojas não habilitadas, aplicativos de mensagens e perfis pessoais. O conselho ressalta que, além de comprometer a segurança dos consumidores, essas transações dificultam a rastreabilidade do produto, elevando a possibilidade de falsificação, desvios de temperatura no transporte e ausência de controle de lote ou validade.

No caso concreto da loja das Moreninhas, o anúncio incluía duas modalidades de acesso à tirzepatida: compra direta de frascos e participação em rifa com número limitado de cotas. Embora o material de divulgação não especificasse a origem do medicamento, o CRF-MS aponta que qualquer produto sem registro nacional, mesmo com rotulagem estrangeira, depende de processo regular de importação a título individual ou pesquisa clínica, o que não se aplica a sorteios ou vendas em estabelecimentos comerciais comuns.

Especialistas ouvidos pelo conselho afirmam que a penalidade prevista no artigo 273 é considerada grave por atingir a saúde coletiva. O dispositivo legal engloba tanto o responsável direto pela venda quanto quem promove, financia ou facilita a circulação de medicamentos clandestinos. Dessa forma, a participação em rifas ou a divulgação de conteúdos que incentivem a compra pode também ser alvo de investigação.

Em nota, o CRF-MS reforça que o consumidor interessado em tratamentos para perda de peso deve procurar acompanhamento médico e adquirir medicamentos apenas em farmácias devidamente autorizadas, com retenção de receita quando exigido. Para o órgão, a robustez do controle sanitário se baseia na responsabilidade compartilhada entre fabricantes, distribuidores, profissionais de saúde e usuários, sendo fundamental evitar canais informais de aquisição.

No momento, a situação permanece sob avaliação do conselho, que reúne elementos para possível encaminhamento ao Ministério Público e à Polícia Federal. Até o fechamento desta reportagem, não havia confirmação de abertura de inquérito, mas o CRF-MS declarou que todas as evidências necessárias já foram protocoladas para análise das autoridades competentes.

O caso da tirzepatida nas Moreninhas reforça a orientação das autoridades de saúde sobre os riscos de adquirir medicamentos sem comprovação de qualidade, eficácia e segurança. A prática de rifar substâncias farmacêuticas, além de não possuir amparo legal, desvirtua a finalidade terapêutica e expõe consumidores a potenciais efeitos adversos, reforçando a necessidade de fiscalização constante por parte dos órgãos de regulação e de denúncia por parte da população.