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Caciques de quatro etnias rejeitam mudança na Funai e enviam carta ao governo federal

Cerca de 25 caciques, vereadores indígenas e outras lideranças dos povos Terena, Kadiwéu, Kinikinau e Atikum reuniram-se na manhã desta quarta-feira, 5 de novembro, na sede regional da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), em Campo Grande (MS). O grupo decidiu apoiar a permanência de Elvis Terena na coordenação regional da autarquia e elaborar uma carta de repúdio destinada à presidência da Funai, ao Ministério dos Povos Indígenas e à Presidência da República.

Denúncia de interferência política

Os participantes afirmaram ter tomado conhecimento de articulações para substituir Elvis Terena sem consulta prévia às comunidades locais. Segundo relatos apresentados no encontro, a iniciativa teria partido de um pequeno grupo de caciques da Terra Indígena Buriti, supostamente influenciado pelo secretário-executivo do Ministério dos Povos Indígenas, Luiz Eloy Terena, e pelo coordenador do Conselho Terena, Valcelio Figueredo. Para as lideranças presentes, a tentativa fere o princípio da autonomia indígena e viola o procedimento de escuta às bases que tradicionalmente precede qualquer definição sobre cargos de representação.

“Decisões tomadas de cima para baixo desconsideram quem vive e sente a realidade das aldeias”, argumentaram os caciques durante a reunião. Eles também destacaram que não foram comunicados sobre tratativas formais de substituição nem receberam explicações sobre os critérios propostos para escolha de um novo coordenador.

Apoio à gestão atual

No encontro, Elvis Terena foi descrito como interlocutor que mantém diálogo contínuo com as aldeias, facilita o acesso a políticas públicas e assegura a presença institucional da Funai nos territórios. Lideranças citaram projetos comunitários em andamento e ações de fortalecimento cultural como evidências de que a coordenação regional tem atuado de forma transparente e participativa.

Representantes urbanos vinculados à Organização Todos do Povo Terena da Grande Dourados (OTGD) também estiveram presentes. Eles ressaltaram que o movimento em defesa de Elvis Terena não é isolado, mas construído coletivamente entre aldeias e contextos urbanos. Para esses líderes, retirar o coordenador sem discutir o tema com todas as partes afetadas comprometeria a continuidade de iniciativas voltadas à saúde, educação, proteção territorial e geração de renda.

Carta de repúdio aprovada por unanimidade

Ao fim da reunião, os participantes aprovaram, sem votos contrários, uma carta de repúdio direcionada à presidenta da Funai, Joênia Wapichana; ao secretário-executivo do Ministério dos Povos Indígenas, Luiz Eloy Terena; e ao gabinete da Presidência da República. O documento:

  • condena tentativas de substituição da coordenação regional sem consulta às comunidades interessadas;
  • aponta possível interferência política externa como motivação para a mudança;
  • reafirma a legitimidade da atual gestão e solicita sua manutenção;
  • pede que decisões futuras sobre chefias regionais sejam precedidas de diálogo amplo com caciques, conselhos e organizações de base.

No texto, as lideranças sustentam que qualquer alteração unilateral representa ameaça ao princípio da autodeterminação dos povos indígenas e compromete o trabalho desenvolvido na região pantaneira. O documento também menciona a necessidade de reforçar mecanismos internos da Funai que assegurem participação efetiva das comunidades na escolha de coordenadores.

Rompimento com o Conselho Terena

Outro ponto acordado na assembleia foi o rompimento público de diversas lideranças com o atual coordenador do Conselho Terena, Valcelio Figueredo. Caciques de diferentes regiões declararam não se sentirem mais representados pelo colegiado e solicitaram sua substituição imediata. Eles alegam que o conselho deixou de consultar as bases e passou a adotar posicionamentos que não refletem os interesses coletivos.

A decisão de distanciamento será formalizada em documento específico, que deve ser remetido aos demais conselhos regionais e ao Ministério dos Povos Indígenas. Segundo os dirigentes, o objetivo é reestruturar a representação interna sem comprometer o diálogo entre comunidades.

Próximos passos

Após o envio da carta de repúdio, as lideranças pretendem acompanhar a tramitação do documento em Brasília e agendar reuniões com a presidência da Funai e com o Ministério dos Povos Indígenas. Caso não recebam resposta, avaliam realizar novas mobilizações em Campo Grande e em aldeias do entorno.

Os caciques afirmam que permanecerão mobilizados até obter garantia formal de que qualquer processo de substituição na coordenação regional será realizado apenas após consulta ampla. Para eles, o episódio reforça a importância de fortalecer canais institucionais que assegurem participação direta das comunidades nas políticas que impactam seus territórios.

Até o fechamento deste texto, não havia manifestação pública da Funai, do Ministério dos Povos Indígenas nem do Conselho Terena sobre os pedidos apresentados pelas lideranças.