Campo Grande (MS) – A 2ª Vara do Tribunal do Júri de Campo Grande condenou, na quarta-feira (5), três réus a penas que totalizam 69 anos e 20 dias de prisão pelos homicídios de dois adolescentes de 13 anos e pela tentativa de homicídio de um jovem de 19. O julgamento se estendeu por mais de 12 horas e exigiu reforço de segurança dentro e fora do Fórum, no bairro Jardim dos Estados.
Condenações e absolvição
Nicollas Inácio Souza da Silva recebeu 43 anos e 20 dias de reclusão; Kleverton Bibiano Apolinário da Silva foi sentenciado a 14 anos de reclusão; e Rafael Mendes de Souza, a 12 anos, sendo 11 em regime de reclusão e um de detenção. Os três deverão cumprir as penas em regime fechado. O quarto acusado, George Edilton Dantas Gomes, foi absolvido pelo conselho de sentença. O processo de João Vitor de Souza Mendes, apontado como autor dos disparos, foi desmembrado porque seu advogado apresentou atestado médico e não compareceu.
Ao fixar as penas, o juiz Aluizio Pereira dos Santos sublinhou a frieza na execução do crime, a utilização de arma de calibre 9 milímetros em via pública e o fato de as vítimas não terem qualquer ligação com o conflito que motivou o ataque. Também pesaram contra os condenados a atuação em grupo armado e a reincidência já registrada em nome de Kleverton.
Dinâmica do crime
O ataque ocorreu em 3 de maio de 2024, por volta das 21h, na Rua Flor de Maio, Jardim das Hortênsias. Aysla Carolina de Oliveira Neitzke e Silas Ortiz Grizahay, ambos de 13 anos, conversavam na calçada quando foram surpreendidos por uma dupla em motocicleta que abriu fogo sem aviso. A menina foi atingida no rosto e no braço, falecendo na UPA do bairro Aero Rancho. O garoto sofreu ferimento no tórax e não resistiu depois de ser levado para a Santa Casa de Campo Grande.
Pedro Henrique Silva Rodrigues, de 19 anos, baleado de raspão na perna, era o alvo real do atentado, segundo a investigação. Testemunhas relataram a policiais terem ouvido ao menos 14 disparos antes de os autores deixarem o local em alta velocidade. Peritos recolheram cápsulas de pistola calibre 9 mm espalhadas pela via.
Motivação ligada ao tráfico
Inquérito da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa concluiu que a ação foi planejada para eliminar Pedro Henrique em meio a disputa por pontos de venda de drogas na região. Conforme a peça policial, João Vitor teria empunhado a arma, Nicollas pilotado a motocicleta, Rafael guardado o veículo, George atuado como motorista de apoio e Kleverton ordenado o atentado.
Debate no plenário
Durante a sessão, a promotora Luciana do Amaral Rabelo solicitou a condenação integral dos acusados nas qualificadoras de motivo torpe e recurso que dificultou a defesa das vítimas. As defesas, representadas pela Defensoria Pública e pelos advogados Pedro Paulo Sperb Wanderley e Sérgio Ropelli Abril, tentaram desclassificar o delito para homicídio simples e excluir as qualificadoras, mas não convenceram os jurados.
Os advogados solicitaram ainda que testemunhas e sobreviventes fossem ouvidos novamente em plenário. O magistrado negou o pedido, assinalando que todos os depoimentos estavam registrados em áudio e vídeo e que a repetição poderia causar nova exposição às famílias, além de retardar o andamento do júri.
Estrutura de segurança
O julgamento começou às 8h e encerrou-se às 20h20, sob forte aparato do Batalhão de Choque da Polícia Militar. Equipes permaneceram posicionadas no interior do salão e no perímetro externo do Fórum para prevenir tumultos. Não houve intercorrências.
Pontos principais da sentença
O juiz reconheceu qualificadoras de motivo torpe, emprego de recurso que impossibilitou defesa das vítimas e participação de grupo armado. No caso de Nicollas, também foi considerada a continuidade delitiva, o que elevou sua pena. Já Kleverton teve a punição agravada pela reincidência.
A decisão determinou que nenhum dos condenados poderá recorrer em liberdade. Eles foram encaminhados imediatamente ao sistema penitenciário estadual, onde já se encontravam presos preventivamente desde 2024.
Próximos passos processuais
Como o processo de João Vitor de Souza Mendes foi separado, ele ainda será submetido a júri popular em data a ser definida. A acusação o aponta como o atirador que executou os disparos. Caso seja condenado, a pena pode superar as já impostas aos demais participantes.
Com o encerramento do júri, a defesa dos três condenados tem prazo legal para apresentar recursos ao Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul. Até o final da sessão, nenhuma das bancas confirmou se irá recorrer.









